9 de dezembro de 2008

Não quero ir para o céu, pois tenho medo.

Não quero ir para o céu, pois tenho medo.
Foi isso mesmo que eu disse: Tenho medo de ir para o céu.
Mas o céu que tenho medo é outro. Não me deixou molhar o bico. Rsrs.
Engraçado que o inferno das piadas brasileiras é muito mais atraente que o céu que me foi apresentado na igreja cristã. Quando adolescente abri meu coração a Deus e confessei pedindo desculpas por não gostar daquele céu.
Devem estar se perguntando: E que céu é esse?
Neste céu todo mundo ta de branco e cantando corinhos a Deus.
Não tenho nada contra a cor branca, meu problema é com os corinhos.
Antes de me julgar espera de novo eu molhar bico. Rsrs.
A questão é que o céu de crente é um festival de música ‘gospel’ por toda eternidade*.
Uma música após a outra. Sem interrupções. Sem paradas. Sem pausa para ir ao banheiro... Por toda eternidade; entenda eternidade como um tempo-sem-fim. Entre uma música e outra alguém diz: “Palmas pra Jesus!” Ai todo mundo bate. E se você não bate palma pra Jesus ta ‘frito’. Literalmente, porque Jesus pode te jogar no inferno. Ta pensando o que!? Jesus não merece suas palmas não!? Rsrsrs. Quando o líder do louvor não pede pra bater palmas, pede pra você falar alguma coisa para o irmãozinho do lado como “Irmãozinho você estar feliz de estar no céu?” neste caso a resposta tem que ser “sim”. Rsrsrs. O céu de crente é assim... Acaba uma música, alguém já puxa outra. Não pode parar de cantar porque senão Deus tem um ‘treco’. O medo que tenho do céu é de morrer de tédio neste lugar, pois é muito chato. Dos males pensava qual era o pior: Ser comido por vermes eternamente ou participar deste ‘louvorsão’ eterno. Apesar de que, acreditava que essa idéia de inferno era coisa de crente, pois se não pintasse o inferno com verme ninguém iria querer ir pro céu. Moro no Rio de Janeiro, terra onde acontece o carnaval, festa-da-carne. O pastor da igreja dizia que tínhamos que nos retirar para um outro lugar bem afastado desta festa, pois neste período o Rio estava sendo consagrado ao diabo, e outros adultos completavam “o inferno esta lá em ‘peso’. E eu menino na puberdade pensava “o inferno tem vermes ou mulher de peito de fora”. Rsrsrs. Só estou mostrando que desde cedo nunca consegui absorver essa idéia de céu. Ainda bem que o céu que irei morar não tem nada a ver com este citado. Meu céu não é enfadonho. Meu céu é alegre, é prazeroso... Esta além da minha compreensão. E por estar além não consigo nem o imaginar.




* - O problema é que crente pensa que louvor e adoração só acontecem com músicas.

25 de novembro de 2008

Filosofia popular.

“Coração do homem é igual à terra. Tão perto da gente, mas nós nem a conhecemos”.

PS.: Um conhecido lavrador a disse no meio de um papo que estávamos tendo.

17 de novembro de 2008

É pela fé!


"Disse DEUS a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de seu pai e vai para a terra que lhe mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!"


Quando lemos o chamado de Abrão achamos maravilhoso, e realmente é. Achamos tão maravilhoso que gostaríamos de tê-lo recebido ao invés de Abrão. Nossa! Já pensou? Breno o pai da fé. Rsrs. Só que esquecemos que esse chamado mexeu com todas as estruturas de segurança de Abrão. Ele tinha pai, tinha mãe, tinha esposa, tinha amigos, tinha uma casa, tinha um bom emprego. Morava no maior centro urbano daquele tempo. Abrão era um homem normal, como eu e você. Só estou falando isso, pois normalmente quando pensamos nesses personagens bíblicos esquecemos que de fato existiram (Tratamos mais para um personagem de livro de ficção do que qualquer outra coisa); ou quando cremos em sua existência os tratamos como super-humanos.

Quando leio a Bíblia, a leio encarnando cada personagem. Procuro sentir seus dilemas existências, imaginar os confrontos de ‘si-contra-si’ que paira no ar, o impacto que uma palavra faz no coração; procurando entender no máximo que possível o efeito que ela produz. Imagina o que a ordem "Sai da tua terra.." produziu no coração de Abrão? O convite de Deus a Abrão consistia em abandonar tudo que era certo por algo aparentemente incerto; creio que ai que repousa as inseguranças das decisões de fé muitas vezes.

"Sai da sua terra e vai para terra que lhe mostrarei..."

Abrão obedecendo à voz preparou sua mala para uma viagem rumo ao local que Deus ainda lhe revelaria, ou seja, saiu do conhecido para um verdadeiro salto no escuro. Claro que era um salto no escuro só para Abrão por que não sabia o que lhe esperava, embora tivesse a certeza que estava caminhando com Aquele que sabia por ele.

"De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção!"

Saiu da terra com uma benção que seria uma benção. E partiu sem saber para onde ia, logo na primeira esquina teve que negociar sua linda esposa Sarai com o Faraó. Diz nas Escrituras que Faraó chegou a possuir Sarai, foi preciso que Deus intervisse para que a história de Abrão não terminasse em divórcio. Mas a história não termina por aí, o sobrinho dele entra numa ‘fria’, Abrão para resgatar-lo entra numa guerra. Ele recebe depois a benção de Melquisedeque e pensamos, “agora vai dar tudo certo para Abraão”; Deus promete pra Abrão um filho, mas o tempo vai passando e como o filho demorava a vir Sarai decidiu agir por Deus, ofereceu a sua serva Agar para Abrão, veio depois o arrependimento e expulsou-a de casa, Deus interveio e a trouxe de volta. A história continua... O nome de Abrão é mudado para Abraão, e é instituída a circuncisão. Acontece aquela história de Sodoma e Gomorra; os anjos quase foram estuprados, cai fogo do céu e somente a família de Ló é salva, quer dizer, a esposa de Ló virou estátua de sal. Sara mesmo idosa 'dava um caldo legal', e surgi em 'cena' Abimeleque, ele mostrou bastante interesse por Sara, quase Sara foi possuída pelo rei, 'quase', Deus interveio. Isaque nasce. Agar e Ismael são expulsos de novo, desta vez por uma brincadeira de Ismael com o Isaque. Deus pede a 'prova das provas' a Abraão, "Toma teu filho e vai-te à terra de Moriá, oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei", obedecendo à voz, Abraão leva Isaquinho, eles chegam ao monte, e quando Abraão iria tirar a vida de seu filho foi interrompido por Deus, "Não faça mal ao menino, agora Eu sei que me temes". Em Hebreus nos diz que Abraão "peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa", o nosso bom homem trocou a vida que tinha em Ur para tornar-se um nômade e habitar em tenda pelo resto da vida.

Abrindo um pequeno parêntese, brincando com um rapaz evangélico, perguntei: O que aconteceu de errado com um homem que tenha dado uma mansão a Deus recebe em troca um casebre? O rapaz disse que esse homem não teve fé, se tivesse fé ganharia em dobro. Quando contei que esse homem ficou conhecido como o pai da fé o rapaz ficou sem saber o que falar. Rsrs. Fecha parêntese.

Pois é! Fiz um ‘resumão’ da jornada de Abraão, que é considerado o pai da fé, para ajudar a entender como muitas vezes será a nossa caminhada pela fé. Não estou dizendo que a nossa vida será uma repetição. Digo o que já disse, a única certeza nessa caminhada é Deus-Conosco. A proposta de Deus em nós é o trabalhar em nossas consciências, por isso o povo de Israel passou 40 anos no deserto, "para saber o que havia no coração". Deus está mais interessado em tratar de nossos corações do que nos dar 'casa, comida e roupa lavada'. Deus está muito mais preocupado de construir um caminho reto no nosso 'ser', isso mesmo que o caminho externo seja cheios de curvas perigosas. Caminhar pela fé é isso: Mesmo não sabendo para onde se está indo, temos á certeza de coração que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que servem a Deus", mesmo não entendendo a priori por que Sara teve que cair nos braços de Faraó. O que sei: Abraão e Sara precisavam passar por tudo aquilo para que Deus construísse o Seu alicerce.

"Sai da tua terra...”

Só se sai de um lugar quando existe algo em teu coração que transcenda qualquer coisa, pois senão o melhor é não sair de Ur.

"Vai para terra que te mostrarei..."

Só tem sentindo o "sai" quando é acompanhado pelo "vai". Tem gente que quer sair e acaba não indo a lugar nenhum: Quer ver quando isso acontece? É quando olham para o que deixou com tristeza. Neste caso o "sai" é mais uma aventura que acaba fé-dendo. Rsrs. (O que já ouvi de casos de missionários que voltaram decepcionado do campo não é brincadeira). Penso que quando Deus manda “sair” também diz “vai para terra” mesmo que essa terra Ele ainda “mostrará” no caminho. E normalmente essa voz é contraditória (mexe com as estruturas de nossa segurança), mas é tão poderosa que não fico sossegado enquanto não a obedeço.

"...de ti farei..."

Essa é parte que todo mundo gosta. Mas esquecemos que para o "de ti farei" tornasse realidade era preciso que Abraão passasse por toda aquela história. Isso não gostamos. Na verdade gostamos de queimar etapa, queremos ser "uma benção" sem precisar "sair da nossa terra", mas num mundo caído isso é impossível.

Fomos chamados para caminhar pela fé. O caminhar pela fé é um caminhar de consciência. "Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem". E mais, jornada de fé nesta vida só faz sentido quando os nossos olhos estão firmado na "pátria superior, isto é, celestial", quando "aguardamos a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" porque senão nos frustramos.
E pra terminar: O que tinha em comum nos homens da galeria dos heróis da fé em Hebreus é: "Todos morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra".

4 de novembro de 2008

Já notou?

Já notou que crente tem uma facilidade de mandar pessoas para o inferno?
Já notou que cada dia mais os crentes estão mais preocupados com as coisas desta vida
que as eternas?
Já notou que o cristianismo está mais parecido com a religiosidade dos fariseus
que a vida de Jesus?
Já notou? Eu já.

27 de outubro de 2008

Meu sincero agradecimento...

Obrigado Deus por ter me escolhido antes da fundação do mundo.
Não porque eu tenha algo de especial, pois o que é especial é a tua graça para comigo;
Não só para comigo, mas para com toda a criação.
E nessa graça tornamos seres predestinados a viver no Seu grande amor.

Versinho

O amor é um passarinho
Que não se sabe direito de onde vem e nem quando chega.
Mas sabe que certo dia aparecerá cantarolando em nossas janelas.

A paixão é uma rosa - Que é coisa certa.
Floresce sempre na primavera.
Não deixa de ser bonita, mas é previsivel.

Pela janela vejo o passarinho com uma rosa no bico.

22 de outubro de 2008

Teologia: O esforço humano de explicar o inexplicável.

Começo enunciando que teologia é todo esforço humano para entender Deus. Agora para a surpresa dos teólogos, eles só podem conhecer aquilo que por Deus é revelado. Tendo em vista isso, o que não é revelado deve entrar no quesito de mistério. Como Paulo diz, “O que de Deus se pode conhecer é manifesto, porque Deus lhes manifestou”, e o que passar disso é especulação. Especulação é coisa de teólogo. Revelação é coisa de Deus. Só conheço de Deus aquilo que é pra ser conhecido. E outra, Deus não é pra ser entendido (Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?), e sim crido. Bem aventurado aquele que não viu, nem entendeu, mas creu de todo coração. E mais, a revelação não se torna revelação apenas por estar escrita nos livros inspirados, antes ela só se torna verdadeira como discernimento no coração iluminado pela Graça.

Continuando. É muita presunção tentar enquadrar Deus em sistemas teológicos, pois Deus é inquadravel. Quando se diz sobre a Revelação, Paulo diz que para os judeus é escândalo e para os gregos, loucura. Engraçado (Chega a ser irônico) que o método que adotamos para os estudos teológicos é justamente o modelo filosófico-grego-aristotélico; onde se “A” é verdade, “B” só pode ser mentira. A problemática acontece quando encontramos assuntos contraditórios, como por exemplo, a Soberania e o livre-arbítrio. Nós pensamos: “Se Deus é soberano o homem não pode ser livre, e se o homem é livre Deus não pode ser soberano”. Acontece que a Bíblia é um livro contraditório e Deus é a própria contradição, isso porque a contradição mora em nossas cacholas (Não em Deus). Achamos que esses assuntos (como outros) são pura contradição porque somos seres limitados e assuntos como esse foge da nossa lógica. Deus não se enquadra na lógica humana. Como explicar um ser que é causa não causada? Estou lembrando de uma piada em que um português queria saber o funcionamento de uma bomba atômica, no qual o amigo pergunta se o mesmo sabia explicar o porquê os bodes cagam bolinhas, como viu que o português não sabia o amigo concluiu: Não entende de merda, vai entender de bomba atômica. Rsrsrs! Por isso tanto Paulo como Jesus falam que só existe uma maneira de entender as coisas de Deus, recebendo a iluminação do próprio Espírito. E assim, para o modelo grego a revelação sempre será loucura, mas a loucura de Deus é mais sabia que a sabedoria humana.

Quando é de Deus é Revelação. Quando é dos homens é cogitação. Não fui chamado para defender Deus. Fui chamado pra pregar as Boas Novas. Não precisamos entender Deus, saber que Ele nos entende já é o suficiente. Teologia que é bíblica é revelação. O que me foi revelado? Que Deus estava em Cristo se reconciliando com o mundo. Ficar discutindo em relação à ordem dos decretos na eleição se é 'amiraldianismo', 'sublapsarianismo' ou 'supralapsarianismo' é bobagem. Basta saber que antes que houvesse luz, houve Cruz, pois o Cordeiro foi imolado antes de qualquer coisa. A teologia deve convergir no Evangelho. Só existe uma maneira de conhecer a Deus, através do Seu Filho. No encontro com o Filho descobrimos o que na verdade somos. Teologia que se preze é assim, na medida em que conheço há Deus (naquilo que pode ser conhecido) devo também me conhecer*. Por esse conhecimento não ser meramente intelectual, invoca no nosso coração um sentido de mudança.

No final, devemos admitir como Paulo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”

* - Nota-se que aqui o pensamento teológico estar a serviço da Revelação.

12 de outubro de 2008

Mandamentos do Reino de Deus.

- Ama a Deus de todo o teu coração, com todo o teu entendimento, com toda a tua alma, e adora-o em espírito e em verdade; e não procures saber com tua a mente como e quem é Deus, mas apenas segue a Jesus, pois eis que Nele Deus está revelado.

- Ama a teu próximo como tu amas a ti mesmo, e faze sempre antecipadamente por ele todo o bem que desejas que façam a ti em qualquer situação da vida.

- Jamais atribuas ao mau ou ao diabo bem nenhum que vejas acontecer na Terra, apenas porque achas que os modos da Graça divina ti são desconhecidos, para que não sejas apanhado infamando as obras do Espírito Santo. Nem mesmo faze tal juízo no segredo de teu coração.

- Santifica Deus em amor em teu ser todos os dias, para que todos os dias sejam Sábado de paz e misericórdia no calendário de teu coração; e, assim, santifiques a Deus na paz de teu ser cheio de gratidão e confiança.

- Não repitas os pecados de teu pai, e nem te solidarizes com a infelicidade de tua mãe. Antes, melhora-os em tua vida, andando por caminhos de paz e alegria, de tal modo que ao ti verem eles vejam que tu os honrastes melhorando-os em tua própria vida. Quem sabe assim ainda haverá cura para eles.

- Aprende o contentamento no prazer que é teu, e não busques prazer na companheira ou companheiro de outro homem ou mulher, pois, tal ato não gera prazer, mas apenas medo e desgosto, posto que nenhum ladrão goza das riquezas que roubou, visto que elas carregam vingança em si mesmas.

- Não sintas inveja de ninguém, pois o invejoso é ladrão de almas e de bens gerados por um outro; assim, quanto mais busca o que é de outro, menos possui a si mesmo como bem.

- Não julgues a ninguém, pois não sabes quais são as verdades que as aparências encobrem; e também para que tal juízo não volte sobre tua cabeça, e ti condene sem apelação.

- Exercita teu coração na gratidão e no contentamento, pois é por eles que ficarás livre de toda a cobiça do inferno.

10º - Não te esforces para ti salvares, posto que todo esforço de auto-salvação gera arrogância. Desse modo, apenas aceita que tua salvação está feita, e que aquele que te salva o faz apenas por Sua imensa Graça e Amor. Assim, confia Nele, pois é na confiança que a salvação se faz consumar como bem para o coração.


Segue esses mandamentos com fé e amor, posto que todos eles são amor; e, sem amor, nem eles e nem nada na existência ti trarão qualquer valor ou bem para a vida.


[Caio]

28 de setembro de 2008

Decálogo Voto Ético.

Como semana que vem será eleição deixo aqui um texto sobre o uso ético do voto do evangélico.
Esse texto é proposta do sumário de propostas defendidas pela conferência da então Associação Evangélica Brasileira (AEVB).


I – O voto é intransferível e inegociável. Com ele o cristão expressa sua consciência como cidadão. Por isso, o voto precisa refletir a compreensão que o cristão tem de seu País. Estado e Município;

II – O cristão não deve violar a sua consciência política. Ele não deve negar sua maneira de ver a realidade social, mesmo que um líder da igreja tente conduzir o voto da comunidade numa outra direção;

III – Os pastores e líderes têm obrigação de orientar os fiéis sobre como votar com ética e com discernimento. No entanto, devem evitar transformar o processo de elucidação política num projeto de manipulação e indução político-partidário;

IV – Os líderes evangélicos devem ser lúcidos e democráticos. Portanto, melhor do que indicar em quem a comunidade deve votar, é organizar debates multipartidários, nos quais, simultânea ou alternadamente, os vários representantes de correntes políticas possam ser ouvidos sem preconceitos;

V – A diversidade social, econômica e ideológica que caracteriza a igreja evangélica no Brasil, deve levar os pastores a não tentarem conduzir processos político-partidários dentro da igreja, sob pena de que, em assim fazendo, eles dividam a comunidade em diversos partidos;

VI – Nenhum cristão deve se sentir obrigado a votar em um candidato pelo simples fato de ele se confessar cristão evangélico. Antes disso, os evangélicos devem discernir se os candidatos ditos cristãos, são pessoas lúcidas e comprometidas com as causas de justiça e da verdade. E mais: é fundamental que o candidato evangélico queira se eleger para propósitos maiores do que apenas defender os interesses que passam também pela dimensão política. Todavia, é mesquinho e pequeno demais pretender eleger alguém apenas para defender interesses restritos às causas temporais da igreja. Um político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política e não apenas um “despachante” de Igrejas;

VII – Os fins não justificam os meios. Portanto, o eleitor cristão não deve jamais aceitar a desculpa de que um político evangélico votou de determinada maneira, apenas porque obteve a promessa de que, em fazendo assim, ele conseguirá alguns benefícios para a igreja, sejam rádios, concessões de TV, terrenos para templos, linhas de crédito bancário, propriedades ou outros “trocos”, ainda que menores. Conquanto todos assumamos que nos bastidores da política haja acordos e composições de interesses, não se pode, entretanto, admitir que tais “acertos” impliquem na prostituição da consciência de um cristão, mesmo que a “recompensa seja, aparentemente, muito boa para a expansão da causa evangélica. Afinal, Jesus não aceitou ganhar os “reinos deste mundo” por quaisquer meios. Ele preferiu o caminho da cruz;

VIII – Os eleitores evangélicos devem votar baseados em programas de governo, e não apenas em função de “boatos” do tipo: “O candidato tal é ateu”; ou: “O fulano vai fechar as igrejas”. Ou o sicrano não vai dar nada aos evangélicos”; ou ainda: “O beltrano é bom porque dará muito para os evangélicos”. É bom saber que a Constituição do país não dá a quem quer que seja, o poder de limitar a liberdade religiosa de qualquer grupo. Além disso, é válido observar que aqueles que espalham tais boatos, quase sempre, têm a intenção de induzir os votos dos eleitores assustados e impressionados, na direção
de um candidato com o qual estejam comprometidos;

IX – Sempre que um eleitor evangélico estiver diante de um impasse do tipo: “o candidato evangélico é ótimo, mas seu partido não é o que eu gosto”, é de bom alvitre que, ainda assim, se dê um “voto de confiança” a esse irmãos na fé, desde que ele tenha as qualificações para o cargo. A fé deve ser prioritária às simpatias ideológico-partidárias.

X – Nenhum eleitor evangélico deve se sentir culpado por ter opinião política diferente da de seu pastor ou líder espiritual. O pastor deve ser obedecido em tudo aquilo que ele ensina sobre a Palavra e Deus, de acordo com ela. No entanto, no âmbito político, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a palavra de um cidadão, e não como uma profecia divina”.

18 de setembro de 2008

E o que eu não sou...

Não sou excessivamente nada...
Nada em excesso me faz bem.

Não sou excessivamente bom para não me tornar cativo de minha própria bondade,
e assim, me corromper na presunção de minhas próprias leis de nobreza e misericórdia.

Não sou excessivamente justo...
para que a minha justiça não se torne em perversidade.

Não tento ser amor, mas apenas amo.
Somente Deus é amor. Eu não sei como é ser amor.

Não sou completamente inclusivo,
pois assim, perderia o meu caráter.

Não sou completamente exclusivo,
pois assim, perderia a minha alma e me tornaria empedrado.

Um santo tem que antes ser um bom pecador.
E o caminho para a santidade é vereda do reconhecimento do pecado.

Não busco nem as alturas e nem os abismos.
Se eu chegar a algum desses pólos,
que tenha sido apenas levado pela vida, não por mim mesmo.
Antes, busco o caminho do equilíbrio e a vereda plana.

Todo excesso destrói o ser!




[Caio]

13 de setembro de 2008

Sal fora do Saleiro.

Uma coisa é certa: “Lugar de sal é na salada e não no saleiro”.
Quando penso no sal... Penso salgando alguma coisa.
Se o sal não salga pra nada serve.
Pois a função do sal é salgar.
Jesus nos chama para ser sal.
Esse é o nosso chamado primordial... “Seja sal da terra...”.
Por isso repito...
“Lugar de sal é na salada e não no saleiro”.
Jesus nos chama para vivermos uma vida fora do saleiro.
Jesus nos chama para caminharmos com Ele salgando o mundo.
O evangelho que pregue uma vida no saleiro não é de Jesus...
É um falso evangelho.
Sal no saleiro só salga o bolso dos empresários no ramo da refinaria.
Claro que existe saleiro, saleiro e saleiro.
Assim como existe ‘sal’ e ‘grão’.
Creio que o ‘grão’ pode ser converter em ‘sal’.
Descreio que o ‘sal’ possa retornar a ser ‘grão’.
Os que retornam é por que nunca foram ‘sais’ de verdade...
Eram mais convencidos do que convertidos.
Convencer ‘grão’ que ele é ‘sal’ é a coisa mais fácil...
É só colocar uma placa BEM GRANDE na frente de um pote com os dizeres:
“SALEIRO”.
Depois, precisa de um ‘grão’ que se acha o ‘sal grosso da parada’ (ou salafrário) e este prega sermões que te convence que você é um tal... Digo, sal.
Nesse meio vale de tudo para atrair os fieis...
Inclusive a moda hoje não é dizer que é sal, mas sim ‘salzon’.
- Sem comentários.
Evangelismo para esses grupos é conduzir ‘grãos’ ao saleiro... Somente isso.
Agora eu sei que um dia alguém terá uma surpresa. Tentará salgar algum alimento pra uma pessoa muito especial, só que essa percebendo a falta de sal botará todo o conteúdo de sua boca pra fora (Não é isso que diz a carta para igreja de Laodiceia!?).
Meu convite hoje pra você é... "Vem e vê!"
Venha conhecer a Jesus por você mesmo.
Você não precisa mais de 'mediadores' para se relacionar com Ele.
Leia a Bíblia. Lá você encontrara com a Palavra de Deus.
Comece lendo os evangelhos, depois parta para os outros livros - A chave para entender a Bíblia está na pessoa de Jesus.
Procure a verdade e ela te trará libertação.
Assim descobrirá o que é ser sal de verdade...
É ser parecido com Jesus.
Lembre-se: Sal... Salga.
Sal não pede pra salgar. Ele salga porque é sal.
Sal não diz: - Salga comida!
Nem muito menos: - Essa comida eu não quero salgar.
Ele não tem como negar a sua natureza.
Sal que não salga é grão de areia...
E o lugar de areia é no chão para ser pisado pelos homens.
Eu não estou falando de fazer grande coisas para Deus, mas de ser em Deus.
Estou falando de vida!
Salgar é conseqüência de ser sal.
Conseqüência de ser aquilo que Jesus chamou para ser.
Concluo fazendo uma pergunta:
- Pode o sal salgar o mundo inteiro e não salgar seu próprio ser? Pode?

4 de agosto de 2008

Línguas dos anjos.


Tenho uma teoria herética o quanto falar em ‘línguas estranhas’, ou como muitas pessoas o chamam, as ‘línguas dos anjos’. E pra mim quando surge esse ‘falar’ é quando faltam em nosso vocabulário palavras para descrever o inexplicável aí criamos palavras novas. Seguindo uma lógica: Se as palavras pudessem descrever a Deus, logo as palavras seriam deus. Mas Deus está acima de tudo, inclusive das palavras, por isso chega um momento que falta palavras para descrever a Sua Grandeza. É nesse momento que entra em cena às tais línguas angelicais que seriam melhores clarificada se as chamássemos da linguagem do coração, visto que é de onde elas brotam. Deus as recebe por saber a procedência destas. Ele conhece o coração de Suas criaturas e sabe que essas palavras carregam em si uma sinceridade e o amor. Todos nós sabemos que o amor é algo difícil de explicar com palavras, tanto que Deus revelou o Seu amor pelas criaturas na morte de Cristo, sendo nós ainda pecadores. Em Cristo compreendemos que o amor não se explica com palavras, mas com a atitude. Mas voltando ao falar em línguas, lembro-me que Kierkegaard dizia: “a verdade não está naquilo que é dito mas no como ele é dito”. A minha interpretação herética desta frase é que o importante é a procedência das palavras, pois é de lá que carregam o seu real significado. E é isso. Termino por aqui. Como é uma teoria herética não me darei o trabalho de criar argumentos em defesa.

21 de julho de 2008

Santa Romaria.

Lembro que fazia 6 meses que nenhuma gota d’água caia na terra do Norte de Minas. Morava numa região rural. Num daqueles dias conversando com um agricultor, ele me revelou o seu desespero diante da seca, estava perdendo muita coisa em sua horta. Na televisão pude ver com maior proporção o que estava acontecendo por ali.
Já notou que quando o desespero toma conta da alma humana o normal é projetarmos nossa esperança além? Foi o que vi ao longe de uma estrada de barro. Um grupo de senhoras munidas com jarros d’água e em suas rezas uma invocação à santa padroeira para lhe darem a chuva, enquanto isso, na roça, seus maridos tentava salvar o que se podia. Confesso que me compadeci de seus olhares esperançosos e com o meu espírito participei daquela romaria. Não é que no dia seguinte choveu naquela região! Fiquei tão feliz. Tanto que compartilhei com alguns conhecidos. Fui motivo de piada. Isso por que falei de um Deus que faz milagre e deixa um santo receber o crédito. Tentei explicar a Graça para esse grupo de crentes, que ela é um favor imerecido e por ser imerecido ninguém a merecia – nem os da igreja e nem os ímpios – . Mas Papai por Sua infinita misericórdia permitiu que ela caísse tanto sobre os homens justos quanto para os injustos. Ele faz o Seu sol se levantar sobre maus e bons assim como permiti Sua chuva cair para qualquer tipo de gente. Conclui a conversa deixando uma pergunta no ar: Será que Papai não leva em consideração o tempo da ignorância? Tive que concluir, pois uma amiga para salvar seu amigo herege desconversou e mudou de assunto.

15 de julho de 2008

UM CONVITE À DOCE REVOLUÇÃO - O Reino é simples.

Artigo 1 – Fica decretado que agora não há mais nenhuma condenação para quem está em Jesus, pois, o Espírito da Vida em Cristo, livra o homem de toda culpa para sempre.

Artigo 2 – Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive os Sábados e Domingos, carregam consigo o amanhecer do Dia Chamado Hoje, por isso qualquer homem terá sempre mais valor que as obrigações de qualquer religião.

Artigo 3 – Fica decretado que a partir deste momento haverá videiras, e que seus vinhos podem ser bebidos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e que com elas todo homem pode se lambuzar.

Parágrafo do Momento: Todas as flores serão de esperança; pois que todas as cores, inclusive o preto, serão cores de esperança ante o olhar de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizará mais o bem ou o mal, mas apenas seu próprio tom, pois, o que daí passar estará sempre no olhar de quem vê.

Artigo 4 – Fica decretado que o homem não julgará mais o homem, e que cada um respeitará seu próximo como o Rio Negro respeita suas diferenças com o Solimões, visto que com ele se encontra para correrem juntos o mesmo curso até o encontro com o Mar.

Parágrafo que nada pára: O homem dará liberdade ao homem assim como a águia dá liberdade para seu filhote voar.

Artigo 5 – Fica decretado que os homens estão livres e que nunca mais nenhum homem será diferente de outro homem por causa de qualquer Causa. Todas as mordaças serão transformadas em ataduras para que sejam curadas as feridas provocadas pela tirania do silencio. A alegria do homem será o prazer de ser quem é para Aquele que o fez, e para todo aquele que encontre em seu caminhar.

Artigo 6 – Fica ordenado, por mais tempo que o tempo possa medir, que todos os povos da Terra serão um só povo, e que todos trarão as oferendas da Gratidão para a Praça da Nova Jerusalém.

Artigo 7 – Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido que mesmo o mais injusto dos homens que se arrependa de seus maus caminhos, terá acesso à Arvore da Vida, por suas folhas será curado, e dela se alimentará por toda a eternidade.

Artigo 8 – Está decretado que pela força da Ressurreição nunca mais nenhum homem apresentará a Deus a culpa de outro homem, rogando com ódio as bênçãos da maldição. Pois todo escrito de dívidas que havia contra o homem foi rasgado, e assustados para sempre ficaram os acusadores da maldade.

Parágrafo único: Cada um aprenderá a cuidar em paz de seu próprio coração.

Artigo 9 – Fica permanentemente esclarecido, com a Luz do Sol da Justiça, que somente Deus sabe o que se passa na alma de um homem. Portanto, cada consciência saiba de si mesma diante de Deus, pois para sempre todas as coisas são lícitas, e a sabedoria será sempre saber o que convém.

Artigo 10 – Fica avisado ao mundo que os únicos trajes que vestem bem o homem diante de Deus não são feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se vestem com as Roupas do Sangue estão cobertos mesmo quando andam nus.

Parágrafo certo: A única nudez que será castigada será a da presunção daquele que se pensa por si mesmo vestido.

Artigo 11 – Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem não ama jamais enxergará qualquer beleza em nenhum lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar.

Artigo 12 – Está permanentemente decretado o convívio entre todos os seres, por isso, nada é feio, nem mesmo fazer amizades com gorilas ou chamar de minha amiga a sucuri dos igapós. Até a “Comigo-ninguém-pode” está liberta para ser somente a bela planta que é.

Parágrafo da vida: Uma única coisa está para sempre proibida: tentar ser quem não se é.

Artigo 13 – Fica ordenado que nunca mais se oferecerá nenhuma Graça em troca de nada, e que o dinheiro perderá qualquer importância nos cultos do homem. Os gasofilácios se transformarão em baús de boas recordações; e todo dinheiro em circulação será passado com tanta leveza e bondade que a mão esquerda não ficará sabendo o que a direita fez com ele.

Artigo 14 – Fica estabelecido que todo aquele que mentir em nome de Deus vomitará suas próprias mentiras, e delas se alimentará como o camelo, até que decida apenas glorificar a Deus com a verdade do coração.

Artigo 15 – Nunca mais ninguém usará a frase “Deus pensa”, pois, de uma vez e para sempre, está estabelecido que o homem não sabe o que Deus pensa.

Artigo 16 – Estabelecido está que a Palavra de Deus não pode ser nem comprada e nem vendida, pois cada um aprenderá que a Palavra é livre como o Vento e poderosa como o Mar.

Artigo 17 – Permite-se para sempre que onde quer que dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal.

Artigo 18 – Fica proibido o uso do Nome de Jesus por qualquer homem que o faça para exercer poder sobre seu próximo; e que melhor que a insinceridade é o silencio. Daqui para frente nenhum homem dirá “o Senhor me falou para dizer isto a ti”, pois, Deus mesmo falará à consciência de cada um. Todos os homens e mulheres que crêem serão iguais, e ninguém jamais demandará do próximo submissão, mas apenas reconhecerá o seu direito de livremente ser e amar.

Artigo 19 – Fica permitido o delírio dos profetas e todas as utopias estão agora instituídas como a mais pura realidade.

Artigo 20 – Amém!

Caio e tantos quantos creiam que uma revolução não precisa ser sem poesia.

28 de junho de 2008

Um dia desses no terreiro de macumba...

Diz as mais línguas que certo dia no terreiro de macumba aconteceu um fortuito.
Quero deixar bem claro que apenas estou repassando o que ouvi. A pessoa que me contou soube por uma outra, que por sua vez soube por outra e essa por uma outra e assim sucessivamente.
Bem, sem mais rodeio. O que contaram foi o seguinte:
As mães, os pais, os tios e as avós de santo começaram o seu ritual rotineiro e o ritual tinha como objetivo invocar a sua entidade. E começaram a invocar... a invocar... a invocar... e a entidade nada de aparecer. Acharam estranho. O santo nunca foi disso. Sempre foi pontual nos seus compromissos.
- O que será que aconteceu? - Perguntavam-se.
Mas quando começaram a imaginar o pior... Quem entra em cena? O individuo.
Já aparece pedindo desculpas e explica que de ultima hora foi convocado a comparecer numa reunião da igreja universal, como tinha contrato com os caras de lá... aí você já viu né? rs

9 de junho de 2008

O inferno não existe!


O inferno não existe! Estou definitivamente convicto disso. Sei que estou mexendo em formigueiro, afinal, fomos ‘adestrados’ a nunca questionar dogmas. Quem questiona dogma tem um destino certo, a fogueira. Mas minha alma não teme. Ela sabe que não precisa temer o fogo, seja ele o que for, pois das cinzas ela renasce livre e forte. E por não temer, digo que é muito difícil acreditar que Deus preparou um lugar de sofrimento eterno para todos aqueles que não o aceitou como Senhor de suas vidas – ou se preferirem, que Ele não escolheu para morar no Céu.

O inferno não existe! Pelo menos não no sentido mais utilizado desta palavra. Creio que o inferno descrito em Apocalipse 20.15 é um lugar da inexistência, o relato bíblico nos fala que “aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”, que é “a segunda morte (Ap 20.14)”. Se na primeira morte deixamos de viver, na segunda, deixamos de existir. Bem, pelo menos é assim que penso. Apoio-me também naquelas palavras de Paulo em Atos 18.28 que diz: “pois nele (Deus) vivemos, e nos movemos, e existimos...”. Paulo está dizendo que Deus é o lugar de nossa existência. Fora Dele nada existe. Quando olhamos a história da humanidade o que observamos é a luta do homem pela independência. É só lembrar que a ambição de Adão e Eva era de ser ‘como deuses’, numa linguagem bem popular ‘donos de seu próprio nariz’. Então, se Deus é o lugar de existência, quando nos distanciamos Dele deveríamos deixar de existir. Se existimos, estamos em Deus, pois como sabemos o ser humano não tem condição de se sustentar sozinho. Aí entra a questão. Se quisermos ficar longe de Deus, estamos pedindo pra deixar de existir. Acredito que a misericórdia de Deus até aí age. Visto que dá a sua criatura aquilo que ela pede: A inexistência. A tristeza de Deus é que Ele nos criou para termos vida em abundancia e desfrutarmos dela com Ele.

Em resumo o que afirmo é: As almas não-salvas deixarão de existir em algum momento após a morte. Serão excluídas da presença e da comunhão de Deus, visto que o rejeitaram em seus corações. Como falei, uma vida sem Deus e sem a sua graça é uma não vida, ou seja, uma não existência.

Esse meu questionamento surgiu quando escrevia um trabalho acadêmico, nele eu abordava a questão do sofrimento humano. Lembro que no meio do trabalho fui tomado por algumas dúvidas existências: “Será que Deus castigue com sofrimentos eternos pecados que foram cometidos no tempo? Será que o sofrimento humano nunca terá fim?”, até escrevi um texto sobre isso, no qual transcrevo uma pequena parte dele, “É difícil pra eu afirmar que Deus antes da fundação do mundo planejou criar seres humanos com o propósito de que nascessem, vivessem numa vida miserável e por fim de sua vida queimasse eternamente no inferno.” . Sofrimento eterno á pecados cometidos no tempo, seria – ao meu ver – dar demasiada onipotência ao mal, em outras palavras, seria o mesmo que dizer que a Queda teve um impacto maior na humanidade do que a Redenção propiciada por Cristo [Leia Romanos 5.15-21].

Aqui nesse parágrafo gostaria de acrescentar mais dois outros versículos. O primeiro está em Mateus 25. 46, que diz: “E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”. A palavra usada aqui para classificar ‘eterno’ é a palavra grega ‘aionios’ que significa “que pertence à era porvir”. E segundo o filologista Basil Atkinson, "Quando o adjetivo aionios significando ‘eterno’ é usado no grego juntamente com substantivos de ação, ele se refere ao resultado da ação, não ao processo. Assim a expressão ‘castigo eterno’ é comparável a ‘redenção eterna’ e a ‘salvação eterna’”, sendo assim “os que se perdem não passarão eternamente por um processo de castigo mas serão punidos uma vez por todas com resultados eternos”. O outro versículo está em 2 Tessalonicenses 1.9, onde Paulo explica o significado de “sofrerão penalidade de eterna (aionios) destruição” adicionando “banidos da face do Senhor”. Banir é uma expressão que denota exclusão. O castigo eterno que o homem recebe é de ser excluído da presença de Deus. Como percebe, voltamos do ponto que partimos.

Como se percebe, esse texto está distante de ser uma tese (Nem tenho cacife pra isso). Os próprios versículos mencionados em defesa desta idéia estão longe do ideal acadêmico, visto que não procuro fazer nenhum estudo exaustivo. Também não quero levar os leitores à exaustão. A letra pode acabar matando a paciência destes. Nem tampouco procuro defender com “unhas e dentes”, procuro apenas afirmar o que acredita meu coração. Então, estou apenas seguindo a receita médica. Breno faça exercícios – disse o médico. Pratico aqui o exercício favorito dos teólogos, a especulação. Digo isso, por que a Bíblia não nos diz muita coisa a respeito do inferno, a não ser fazendo uso de linguagem metafórica ou alegórica. Assim deixo no campo da especulação porque nunca estive e nem quero estar no inferno só pra confirmar uma idéia. Mas não é de admirar que o inferno ‘sem fim’ seja tão defendido pela cristandade. Praticamente toda teologia foi construída em cima dele. É o medo do inferno que levam muitos a Cristo. Tão importante é essa idéia de inferno que Tomás de Aquino afirmou que a visão do inferno faz parte da bem-aventurança de Deus e dos salvos, no Céu. É muito mais fácil de obter o controle da alma do povo com o medo do que com o amor, concorda comigo? Mas seguir a Jesus por medo do inferno só revela uma coisa: A nossa total falta de amor por Ele. Queridos, com Cristo até o inferno transformasse em céu, isso porque céu é a Sua presença. O nosso estimulo para andar com Cristo deve ser por amor e somente por amor. E só vai para o inferno quem realmente queira no final. Afinal o sacrifício de Cristo é suficiente para salvar a todos.

Hoje, não consigo pensar no inferno como um tempo sem fim. Mas entendo quem pensa diferente, pois nós, criaturas condicionadas ao tempo, a única realidade que conhecemos é o momento, não conhecemos o não-momento ou o tempo além-do-tempo. A visão humana de tempo é cronológica, partindo dela é inevitável enxergar o inferno como um lugar de sofrimento e torturas infindáveis – digo ‘lugar’ porque tempo demanda espaço. Mas para acreditar num inferno deste é preciso pensar em Deus como sádico e não como amor. Não estou querendo dar demasiada ênfase ao amor divino, deixando de lado os outros atributos. Sei que Deus é Amor, mas também é Justiça, é Santidade... E as suas misericórdias duram para sempre (SL 106:1). Mas o que estou escrevendo aqui é a compreensão que tenho de Jesus e do Seu Evangelho. O Evangelho me diz que a Graça, Misericórdia e o Amor superam tudo.

Finalizando. Acho que é valido relatar um fato que aconteceu comigo para melhora ilustrar essa questão da eternidade. Lembro que tempos atrás fui embebido por um sentimento que mexeu em todo o meu ser. Esse sentimento levava-me a angustia muitas das vezes. Uma angustia na alma que parecia não ter fim. O sentimento em si era algo bom, a própria angustia devido a esse sentimento tornava-se boa. Como estou falando de ‘paixão’, sabemos que não é um sentimento pra se viver à vida toda. E bom enquanto dura. Se começa a durar muito se torna algo terrível, como Vinicius de Moraes sugeriu “que seja infinito enquanto dure”, mas que não seja infinito de “imortal, posto que é chama”. Estou contando essa experiência, pois foi nela que minha visão de eternidade veio a mudar. Deixei de ver a eternidade como ‘algo sem fim’ para algo ‘com o fim nele mesmo’, posto que experimentei um pouco do que poderia chamar de eternidade, embora mergulhado no tempo. Senti na alma algo que parecia não ter fim, enquanto que na realidade do tempo durou apenas um momento. Se for para pensar no inferno, pensemos deste jeito. Longe de catalogá-los na realidade tempo-espaço. Assim pode-se dizer que será rápido em relação ao tempo e eterno em relação à eternidade e mais, como o inferno acontece no não-tempo a sua natureza é de origem existencial.

Concluindo. Minha esperança é: Haverá um momento que o sofrimento humano acabará. Tanto para o Trigo quanto para o Joio. O mal será extinto da face da Terra (física) e do Céu (metafísica). Afinal, escatologia é isso, fim de algumas coisas e o começo de muitas outras.

27 de maio de 2008

A estória do novelinho de lã.

Um novelinho de lã caiu
O gatinho logo o viu.
Brincou... brincou... brincou...
Pobre gatinho na lá se enrolou.
E tenta de cá... E tenta de lá....
Do novelinho se libertar.
Mas cada vez que o gatinho mexia
A lãnzinha nele mais o prendia.
O gatinho miou.
Mas a lã nem se importou.
Ele quis mostrar que era forte
Só que o novelinho já tinha dado o bote.

E pensar que tudo começou com uma brincadeira...
Uma simples brincadeira de gato.
Para o seu conforto viu outros gatos na mesma situação
e acabou chegando em uma conclusão:
“Gato que é gato, precisa viver enrolado”.

20 de maio de 2008

Trecho do livro: Crônicas de Nárnia - O Sobrinho do Mago.


– Tragam aquela criatura – disse Aslam.

Um dos elefantes levantou tio André com a tromba e o colocou aos pés do Leão. O homem estava apavorado demais para mover-se.

– Por favor, Aslam – falou Polly –, poderia dizer uma coisa que... desapavorasse ele? E depois poderia dizer algo que o impedisse de voltar a este lugar?

– E acha que ele ainda quer voltar? – indagou Aslam.

– O caso é que ele quer mandar outra pessoa; está muito entusiasmado com a barra de ferro que virou poste e acha...

– O que ele está pensando é uma grande tolice – interrompeu Aslam. – Este mundo só estará explodindo de vida por poucos dias, pois a canção com que o chamei à vida ainda vibra no ar e retumba na terra. Não será por muito tempo. Mas não posso dizer isso a este velho pecador, como também não posso consolá-lo; ele mesmo se colocou fora do alcance da minha voz. Se eu lhe falasse, ouviria apenas rosnado e rugido. Oh, Filhos de Adão, com que esperteza vocês se defendem daquilo que lhes pode fazer o bem! Mas eu lhe ofertarei a única dádiva que é capaz de receber.

Inclinou a grande cabeça, quase com tristeza, e soprou no rosto aterrorizado do feiticeiro.

– Durma. Afaste-se por algumas horas de todos os tormentos que forjou para si mesmo.

Tio André caiu embolado, já de olhos cerrados, e começou a ressonar tranqüilamente.

– Levem-no e deixem que durma em paz.

14 de maio de 2008

COTIDIANO

Parecia que desta vez a flecha do cupido o tinha atingido em cheio. O coração de João batia forte como a bateria da sua escola de samba preferida. Mas a música que ele escolheu para tocar naquele instante em seu interior não tinha nada a ver com o samba, era uma balada romântica de uma banda estrangeira. A vantagem dessas músicas em outro idioma é que não entendendo o que trata a letra à alma fica livre para traduzir como bem queira. Tanto que no dia seguinte João não teve a menor curiosidade de saber o que de fato dizia, assim continuaria valendo a sua tradução. A tradução melodiosa mexia com a alma de João, pois como sabemos ninguém consegue ficar parado quando a música toca, principalmente quando o que ela diz tem a ver com o coração. Naquele dia podia ver nitidamente o efeito que ela trazia pra João. O pé batia seguindo o compasso. O corpo mexia em sinal de inquietação, pois queria dançar no que era impelido por João. Há! Vale lembrar que minutos antes, João lerá um conto clichê de um conhecido meu. Só basta saber se terá o mesmo fim de novela deste conto. O personagem tem o mesmo nome de João, basta saber se João terá o mesmo fim do personagem.

Era uma manha ensolarada, o canto dos pássaros era abafado com as buzina histéricas dos carros. As pessoas esbarravam-se uma nas outras. Em vez de um “bom dia” ouvia-se fisionomias afetadas pela seriedade. Os taxistas discutiam se choveria naquela manha ou não. Os pombos esperavam a migalha do pão de cada dia. Estou descrevendo um pouco a cena para poderes visualizar onde o nosso amigo se encontrava. E é incrível que no meio de toda essa correria de cidade grande a poesia conseguiu um palco para celebrar mais uma de suas sonatas.

Sentado no banco da praça João avaliava os riscos. Será que valeria a pena entregar-se por completo e cair na dança? Certa vez, li num livro que “nunca se pode saber aquilo que se deve querer, pois só se tem uma vida e não pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores”. Acredito que João também leu. Estava muito temeroso. Sua mão soava. Pensava se deveria ou não falar com aquela garota. Não sabia que decisão tomar, pois não tinha meios de saber o resultado de sua escolha. Mesmo sabendo que já tinha o NÃO como resposta, preocupava-se também com o SIM, pois o SIM acarretaria mudanças no seu estilo de vida. Mudanças para MELHOR ou PIOR. Não tem como saber, ainda mais que tudo na vida é vivido pela primeira vez. Gosto de comparar a vida com uma peça de teatro no qual o enredo se desenrola na base da improvisação. Seria muito bom se o script nos fosse dado já pronto. Azar teria aquela pessoa que recebesse o papel de vilão.

João estava diante de um sentimento de maior grandeza. Viveria a poesia que tanto admirava e lia nos livros de Vinícius de Moraes e Pablo Neruda? Será que submeteria sua sorte às lacunas do acaso? Á mercê dos sentimentos sem tradução? Só há uma pessoa que poderia nos responder... O próprio João. E lá estava ele, perdido em si, de olhar fixo ao outro lado da rua, onde se encontrava Vanessa, uma mulher que esbanjava simpatia, de longe dava pra sentir o perfume adocicado de sua pele morena clara, tinha o cabelo liso e um lindo sorriso. Vanessa aguardava no ponto o ônibus que iria para sua casa, enquanto João tirava suas próprias conclusões.

- Não! Não pode ser amor. Pois acabei de ver essa moça. Deve ser uma mera paixão. Ou não? Não sei.

Embora não conseguia se entender, uma coisa tinha como certeza: Não poderia deixar aquele momento passar. Talvez poderia ser a ultima vez que a viria. Talvez não. Como se sabe, não existe meio de saber. Assim, João decidiu tomar uma decisão. Levantou-se do banco e... Infelizmente foi interrompido pela covardia. Essa colocou temores no seu coração. João sabia que não poderia ser deixar influenciar por esta. Só ele pra saber quantas oportunidades perderá na vida por causa do medo. Decidiu João que teria que lutar.
- Eu vou lá e seja o que Deus quiser.
- E se a ultima pétala for o malmequer?

A dúvida era sempre o único inimigo que ele não conseguia vencer.
Refletia:

- Devo ou não ir de encontro e falar do que sinto a aquela mulher mesmo sem saber explicar o que sinto?

O nosso bom homem sabia que se não atravessasse aquela rua sua vida poderia continuar a mesma – acordar, comer, trabalhar e dormir –. Também poderia mudar. Talvez pra melhor, ou quem sabe, pra pior. Talvez fosse morto ao reagir o assalto no dia seguinte. O certo é que não saberíamos o certo, pois a vida é uma caixa de surpresa e cabe a nós abrir e ver o seu conteúdo. Uns abrem rasgando a embalagem, já outros abrem com a maior cautela.

João procurava uma resposta para a sua dúvida. Será que é amor, ou uma simples atração por ser a moça bela? Pensava na linda estória de um casal chamado João e Vanessa. Eles tinham dois filhos, a menina era sorridente como a mãe e o menino, brincalhão como o pai. Uma família feliz. Família era tudo que João queria e nunca teve, pois perdeu seus pais logo cedo. Enquanto sonhava acordado, calculava, seria bom ou mal falar com aquela mulher.

Qual ser humano jamais lastimou uma decisão tomada, como uma discussão que poderia ser evitada, um amor a quem nunca teve coragem de se declarar e acaba perdendo. E isso que João não queria, tomar uma decisão e depois se arrepender. Mas não tem jeito, ou arremessamos os dados ou perdemos a nossa vez na rodada. Esse é o preço da liberdade. Os seres humanos nunca imaginaram que a liberdade fosse tão complicada. Em Irmãos Karamazov, do Dostoievski, há um diálogo interessante entre o Grande Inquisidor e Cristo. Este ordena que Jesus seja preso e trazido à sua presença no qual profere a sua acusação:

“Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. E em lugar de pacificar a consciência humana de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, tu lhes ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas, a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens. [...] Em vez de te apoderares da liberdade humana, tu a multiplicaste e, assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade”.

O Grande Inquisidor estava certo. As pessoas não querem ser livres, querem viver em seus abrigos seguros. Por mais que digam amar a liberdade, na hora de fazer uso dela, temem. Todos nós preferimos o conforto à aventura. Não poderia ser diferente com João. Ele chegou as suas conclusões e convenceu-se que o sentimento sem tradução era no fundo algo normal. Fazia parte da vida. Assim achou por bem não se arriscar. A música continuou a tocar, mas João desconversou, aproximou-se do taxista e disse que choveria. E nós, ficaremos sem saber o que poderia ter acontecido. Qual seria o final desse amor platônico à primeira vista? Fica a interrogação. Fazer o que se João preferiria viver de sonhos a encarar a realidade. Não existe meio de verificar se a decisão foi boa ou má, e nunca saberemos (Ainda não inventarão a máquina do tempo). Seria boa a vida de João com a Vanessa? Talvez. Vai saber! O melhor é que venhamos a viver sem pensar no que passou.

8 de maio de 2008

Fernando Pessoa: Ah, quanta vez, na hora suave.

AH, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um vôo de ave
E me entristeço!

Por que é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Por que vai sob o céu aberto
Sem um desvio?

Por que ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade

Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minh'alma alheia

Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do vôo suave
Dentro em meu ser.

28 de abril de 2008

Caso Gabriella... Manuella... Isabella... O que seja!

Confesso que já estou exausto de tanto que se fala deste caso. Minha torcida é que o casal seja culpado logo, assim termina essa história de uma vez por todas. A história todos nós já sabemos. Sabemos também que a mídia fez o favor de transformar esse crime num espetáculo de bilheteria. Uma menina sapeca e sorridente foi brutalmente assassinada - provavelmente pelo pai e a madrasta, pelo menos é o que aponta todas as evidencias. Como não sou Deus, prefiro ficar sem dar o meu parecer. Não tenho esse poder de julgar. Mas confesso que estou exausto, exausto desse sensacionalismo televisivo. Pra ser sincero, hoje não estou interessado que a justiça seja feita, mas que inventem um culpado só pra acabar com esse porre logo. Coitada da Isabella! Ela não tem culpa dessa minha exaustão. Teve foi azar de cair na mão da mídia. Antigamente dizia ser o sexo “coisa do capeta”, hoje “coisa do capeta” é a televisão, ouvi um pastor chamando-a da “bunda do diabo” e segundo ele “o objetivo dela é fazer coco em cima da gente”. Nem duvido que possa ser esse o meio que o Anticristo utilizará para alcançar os seus objetivos de tão forte é o poder de influenciar da mídia. Agora se ela é ou não a “bunda do diabo” cada um tem a sua bunda, digo opinião.
Só pelo prazer de especular, a mídia não é a “bunda do diabo”, ela já é o “Anticristo”. Sendo assim, seria um descaso afirmar que o Anticristo trata-se somente de uma pessoa. Por detrás das cortinas encontraremos todo um grupo, claro que a mídia escolherá um ‘rosto bonito’ pra ficar diante das câmeras, só pra servir de âncora e nada mais. Aproveitando essa questão apocalíptica, lhes passarei uma visão que acabei de receber sobre o futuro. Nessa visão eu vejo uma capa de revista, uma revista muito conhecida do publico masculino. A mãe da Isabella que está na capa. Consigo até ver o slogan “Veja o que o pai da Isabella viu e não jogou pela janela”. Mas se parar pra pensar é isso que realmente acontece. A mídia sabe que transformar um crime num espetáculo dá lucro. É triste o que aconteceu com essa pobre menininha. Sem dúvida! Estamos revoltados! Mas, já devíamos estar revoltado muito antes. É só verificar as ocorrências policias que descobriremos muitos casos parecidos.
Vi um tópico em uma comunidade no Orkut sobre o caso Isabella. O cidadão que criou o tópico perguntou: O QUE EXPLICAR NO CASO ISABELLA?
Colocarei para vocês a resposta que melhor refletiu a minha alma. O rapaz não respondeu, mas deixou outras perguntas no ar.

Como explicar o trabalho escravo infantil no nordeste?
Como explicar o infanticídio no Sudão e outras regiões africanas?
Como explicar as mortes de crianças no Iraque?
Como explicar as milhares de crianças que não tem acesso a saúde pública?
Como explicar o abondono de crianças?
Como explicar a vida sub-humana que levam as crianças paupérrimas da Indonésia.
Como explicar a "desova" de fetos?
Como explicar a situação de crianças que ao invés de estarem nas escolas, estão nos faróis da vida?
Abraços.

25 de abril de 2008

Vocação

Continuando o papo passado. Ainda nesta idéia de que a obrigação e a diversão andam juntas, nada daquela coisa de “primeiro a obrigação e depois a diversão”, quero escrever um pouquinho sobre vocação. Vocação vem do latim, ‘vocare’, que quer dizer “chamar”. É um chamado que vem de dentro da gente que nos mostra a existência de algo belo nesse mundo para o qual desejamos entregar ardentemente a nossa vida.

Como já disse, trabalho precisa estar acompanhado de prazer, qualquer tipo de trabalho, inclusive o religioso. Ao meu ver, Deus chama para o trabalho religioso aqueles que de antemão tem essa vocação, como é o caso de Aliocha em “Os irmãos Karamázovi”, um jovem que desde cedo tinha uma certa tendência à religiosidade.

A vida é muito curta. Não devíamos então desperdiçá-la. Aquelas pessoas que encaram o trabalho com sofrimento é que na verdade o seu amor não está ali. Não é admirar que muitos colocam sua esperança numa aposentadoria. Aposentadoria rima com escatologia. Viver a crença de uma felicidade futura já que no presente a vida é uma amargura. Deixando as rimas um pouco de lado. Felicidade não está no destino, ela começa muito antes, na estrada que escolhemos prosseguir.

O povo de Israel só soube murmurar e quem sabe a história, sabe que não entraram na Terra Prometida. Deus não deixaria entrar no paraíso pessoas que não são gratas. Pessoas que murmuram com o ‘maná’, cedo ou mais tarde murmurarão com o ‘leite e mel’. O deserto transformou-se num lugar terrível por causa dos próprios israelitas (o que era para ser 40 dias virou 40 anos). A mesma coisa pode-se falar de nós, a vida é um fardo por que queremos que seja um fardo. O deserto pode virar um oásis, mas para acontecer essa magia primeiramente precisa nascer um oásis dentro de nós.

Precisamos seguir o caminho que amamos. Quando o assunto é a profissão, decida seguir a que sente aquela inclinação. E tudo que fizer faça em memória de Jesus. E quando fazemos aquilo que gostamos estamos disposto até morrer e nem pensamos em aposentadoria. Trabalho tem que ter amor. Deus ama aquilo que é feito com amor, pois Ele é amor.

23 de abril de 2008

O que agrada o coração de Deus?

O que tem de gente doente nesse mundo não é brincadeira. Estou falando isso porque estou indignado com uma conversa que tive recentemente. É cada coisa que escutamos que é revoltante. Ainda não saiu da minha cabeça as palavras de uma conhecida minha, “primeiro a obrigação e depois a diversão”, por isso esforço em colocar no papel para aliviar um pouco essa indignação.

Fico indignado por esses falsos ensinamentos que nos impedem de viver a vida intensamente. Ensinamentos que transformam a vida num imenso fardo pesado. Onde cai por terra ensinamentos como aquele que Jesus pregava “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância (Jo 10.10)”.
Quem foi que ensinou que a obrigação não pode andar lado a lado com a diversão? Teve um tempo que pensei tratar de uma pessoa muito triste. Triste e invejosa. Sabe aquela ‘papo’, “se eu não sou feliz ninguém mais pode”, pois é, esse. Mas hoje penso diferente. Pra mim esse lema foi criado por uma sociedade materialista. Uma sociedade onde o mais importante é ‘ter’ do que ‘ser’. Quer dizer, a frase não foi criada por uma sociedade propriamente dita, mas por indivíduos. Sempre foi assim, aquele que tem o poder dita as regras e outros nada podem fazer além de balançar a cabeça em sinal de aprovação. Então, se quero alguém pra culpar por essa indignação hoje eu culpo os materialistas. Materialista são aquelas pessoas que negam a alma, tratam o ser humano como um ser biológico e nada mais. O que difere o homem do restante dos animais e que ele progrediu, somente isso. A concepção materialista do mundo está fundada essencialmente no progresso cientifico. Sendo assim dão uma importância maior ao que o homem faz e não pelo que ele é. Homem bom é homem produtivo. É nessa brincadeira que o homem deixa de ser homem para transformar em máquina (um meio de produção) e como bem sabemos máquina não se diverte, máquina só trabalha. Ela sabe para que foi programada: Primeiro o trabalho, depois o reparo... “primeiro a obrigação e depois a diversão”.

O que foi mais revoltante é que ela (essa conhecida) colocou o nome de Jesus no meio da conversa, “faço isso por Jesus” – explicando que mesmo sofrendo fazia aquela escolha por Ele. Assim viveria uma vida inteira de sacrifício e nenhum pouco de prazer. Essa seria sua oferenda a Deus (- Está muito mais para uma oferta de tolo!). Agora não sei onde ela aprendeu isto, com Cristo que não foi, ele era contra essa filosofia, “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes (Mt 12.7).”. Misericórdia em hebraico significa ter entranhas de mãe e sentir em profundidade, lá dentro do coração. Há se soubesse o significado dessas palavras! Viver não seria um fardo pesado, seria tão leve que não atrapalharia o vôo.

”Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11.29-30)”. Jesus Cristo.
Onde estou querendo chegar? Explicarei. Quando penso em presentear alguém, penso em dar algo que lhe agrade, se sei que ele (a) não gosta ‘disso ou daquilo’ não darei (a não ser que eu não goste da pessoa, mas ai é outra história). A minha escolha no presente está baseada no conhecimento que tenho da pessoa. Podemos afirmar que o presente descreve um pouco do caráter do presenteado, ou pelo menos a forma como o vemos. O que se pode falar de um Deus que goste de receber ‘sacrifício’? Ou que não goste de ver suas criaturas felizes? Que quem adoramos não é um deus e sim um demônio, um ser sádico que fica feliz com o nosso sofrimento. Mas essa não é verdade divina, ao contrário, Ele sofre quando sofremos e dá altas risadas quando rimos.

Deus recebe diariamente muitos presentes que não lhe agrada, o destino de todos é a lata de lixo. A teologia chama esse lugar de inferno: O lugar onde se joga o que é indesejado.
Deus não vê o homem como uma máquina. Jesus não morreu por causa de robôs. Deus criou o homem à sua imagem, conforme a sua semelhança (Gn 1.26). Deus criou o homem para participar de sua felicidade, por isso a maior satisfação do Criador é ver suas criaturas felizes. O que agrada ao coração de Deus é isso, presentes de felicidade.

8 de abril de 2008

Posso...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
pois é a única coisa que minha alma está a fim de refletir.
Nem venha com aquele papo de pensamento positivo!
Deixa-me em minha tristeza...
A única coisa que posso dizer ser minha.

Não adianta falar das estrelas
(pois foram afugentadas por mim)
Não adianta falar da lua
(cobri-a com nuvens)
Beleza é o que menos preciso nessa hora.

Poderia escrever os versos mais tristes esta noite
Mas tudo que quero é o silêncio... somente o silêncio
Justamente eu que me identifico com a chuva.

1 de abril de 2008

Pequeno discurso sobre a verdade.

Uma coisa é certa, todos nós queremos possuir a verdade. E a melhor explicação desse fato está nas palavras de Jesus, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32)”. A humanidade durante todo a sua história desejou encontrar a chave-resposta de sua existência. Ansiou exaustivamente, e ainda anseia, conhecer a verdade para libertar sua alma cativa. Essa tem sido a maior busca da humanidade, que é conhecer o verdadeiro. E ela sabe que só há a liberdade onde reina a verdade. “Sereis livres quando conheceres a verdade”, parafraseando as palavras de Jesus.

Nessa busca pela verdade surgi em cena os filósofos e teólogos, que nada mais são que os ‘Indiana Jones’. Abrindo parênteses pra se fazer uma graça. Indiana Jones em... “Caçadores da verdade perdida” - Em breve nos melhores cinemas perto de você. Fecha parênteses. O problema das filosofias em geral é que cada uma se propõe como a possuidora da verdade, assim sendo se a verdade mora comigo não poderá estar contigo. Ao meu ver essa brincadeira toda só acontece por causa da nossa ambição de nos tornarmos heróis, ganharmos a fama de libertador. Com isso essa tão sonhada ‘busca pela verdade’ acaba se transformando numa ‘luta pela verdade’ e aí vale de tudo, inclusive tirar a liberdade. Agora você sabe porque é tão difícil encontrar a verdade hoje em dia. É muita concorrência!

Surgi uma pergunta: Onde está a verdade nisso tudo? A verdade está que, para esses homens possuírem a verdade é preciso que a engaiole. E para engaiolar a verdade é necessário engaiolar a liberdade e o pensamento. Um pouco controverso? É eu sei. Mas é isso que realmente acontece. Lutamos para conseguir a liberdade e o que conseguimos é nos embolar ainda mais nas amarras, igual aquele animalzinho que desesperadamente tenta soltar-se do novelo de lã.

”Deus dá a nostalgia pelo vôo. As religiões constroem gaiolas. Quando o vôo se transforma em gaiolas, isso é idolatria.” Rubem Alves.

A verdade está nisso: No vôo.
O vôo nada mais é que o resultado da liberdade.
Pássaro engaiolado não pode voar.
Podemos fazer uma avaliação se o que seguimos repousa a verdade do seguinte modo. Repare ao bater de asas se conseguirá sair do chão.

Concordo com Nietzsche que, a verdade que conhecemos não poderia ser chamada de Verdade (com letra maiúscula mesmo) por tratar sempre de uma compreensão parcial (não completa), uma metáfora (semelhante ou reflexo da coisa) ou metonímia (outra palavra para a coisa), ou seja, o conhecimento que o homem tem da verdade nunca será a Verdade propriamente dita, mas sim um reflexo daquilo que realmente seja a verdade.Teve um tempo que observava a filosofia como parte da teologia, num outro a teologia que fazia parte da filosofia. Hoje, a melhor maneira de observa essas duas seria como irmãs. Diria irmãs siamesas, uma dependente da outra. Quem sabe também almas gêmeas, uma completando a outra. Voltando a ilustração do vôo, pois acho que a chave da verdade ali se encontra. A primeira pergunta que deveríamos fazer quando pensamos em nossas asas é, “quem as colocou?” ou “quem disse que as asas servem para voar?”. Es a questão: Não encontraremos o sentido da vida na própria vida, pois a vida é uma verdade mais não a Verdade. Para encontrarmos o sentido precisamos buscar quem a criou. Deus é o inicio de tudo, assim afirma a teologia e é o que acredito.

O conhecimento que o homem tem de Deus será sempre uma compreensão humana (o que a teologia chama de antropomorfismo), logo imperfeito. A religião surge dentro desta imperfeição. Cada uma tentando engarrafar Deus e vender com os seus rótulos: “A única”, “A que sobe redondo (- Pois descer é coisa do capeta!)” e etc. Mas o que elas não sabem é que Deus não se deixa prender em garrafas de vidro. Deus é como um cavalo selvagem. Daqueles que não pode ser domesticado. Esse é o problema da religião, na tentativa de prender Deus acabam capturando deus e para isso tem um mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim.” (ÊX 20:3). Isso porque a religião fala muito mais da forma humana que da forma de Deus. Conseqüentemente, os dogmas não são verdades de Deus, embora lhe atribuímos tal valor. Por mais que nós conheçamos a Jesus, jamais poderemos exprimir absolutamente essa verdade nas coisas que criamos (dogmas, estruturas, instituições). O conselho que dou para os teólogos não é meu e sim de Rubem Alves: “Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar... Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar o nosso corpo. Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne”.

Em João 18.38 Pilatos pergunta pra Jesus “O que é a verdade?”, mas ele não responde. Acredito porque Jesus sabia que dar forma verbal à verdade, criando uma filosofia ou ideologia, seria o mesmo que matar a própria verdade. Diria tudo, menos “a verdade”. Agora, no mesmo livro em alguns capitulo atrás (14), Ele se apresenta como a Verdade, a Verdade de Deus, a Verdade Encarnada. Posso concluir que para Jesus, a verdade não se conhece (cognitivamente), nem se representa ou se expressa (dogmaticamente), mas se experimenta, se vive e pronto.

Ecoa ainda em minha cabeça as palavras de Jesus: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32)”. Corremos para religião para alcançar a liberdade, mas o que conseguimos são algemas, isso por que a religião e os seus dogmas se apresentam como sendo a verdade. E a igreja erra quando ao invés de conduzir o homem no caminho da verdade, o afasta.

15 de março de 2008

Lição tirada de um filme.

Recebi uma iluminação. Direi que foi divina, pois só pode ter provindo dele algo tão valioso. Estava sentado no sofá diante do televisor. O ambiente escuro de repente foi tomado por uma luz. Não foi nenhuma aparição de “seres-angelicais” é que o televisor fora ligado. Em sua tela revelava-me o filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain”. Não me prenderei em contar a estória (- Quem quiser que veja!) mas em passar-lhes a iluminação que recebi.

A primeira vista ao vermos o filme diremos não ter nada de tão fabulosa na vida de Amélie. É simples demais. E acredito ser esse o brilho do filme, pois mesmo com uma vida (digamos assim de passagem) pacata, é nítido enxergar seu olhar de satisfação. Percebemos então que Amélie compreende muito bem que são, na verdade, nos pequenos detalhes que determinam o grau de satisfação com que levamos nossas vidas. E ela torna-se fabulosa quando conseguimos enxergar essas pequenas coisas. A graça da vida está no canto dos pássaros, no beijo da pessoa amada, nas primeiras palavras ditas por uma criança, ver a expressão das pessoas em uma sala de cinema (prazer de Amélie). São tantas coisas! Compor uma canção, escrever um poema, brincar, roubar manga, ouvir a melodia da chuva... e é incrível que essas pequenas coisas muitas vezes passam desapercebidas entre nós.

Essa é uma lição de valor eterno. A vida não é medida pelo número de anos vividos, nem pelos grandes empreendimentos feitos, mas sim pelos pequenos gestos. Lembro que um dos sonhos de minha mãe era de conhecer Campos do Jordão. Meu pai com muito esforço conseguiu levá-la. Garanto que o sorriso de sua amada foi seu principal prêmio. E para mamãe estar no lugar dos sonhos com ele é tudo. Não seria a mesma coisa se não tivesse sua presença. Isso que ficará em sua lembrança.

O segredo para aprender viver está com as crianças, pois alegria é coisa inerente a elas. Já notou que criança se contenta com qualquer coisa? Quando menino teve ocasião que me diverti até com um parafuso (Brincadeira que me custou caro, pois hoje funciono com um parafuso a menos). Não é de admirar que Jesus nos advertiu que para se entrar no seu Reino precisaria tornar-se criança (Mt 18.3). Criança é assim. Transforma as pequenas coisas da vida em grandes oportunidades de ser feliz. Já adultos são aqueles tolos que acreditam que “dinheiro traz felicidade”, e como ouvi alguém certa vez falando: “Só serei feliz se...”. Criança não pensa muito em felicidade ela é feliz e pronto. Quem pensa muito em felicidade é porque sofre de infelicidade. Alias, acredito que deixamos de ser criança no momento que pensamos como adulto. Não é de admirar que o ato de pensar seja próprio deles. Alberto Caeiro dizia que “pensar é estar doente dos olhos”, “é não compreender”. Concordo e sou da seguinte opinião: Os adultos pensam porque não estão felizes com o que são.

Na parábola dos talentos algo importante pra ressaltar é que o senhor prometeu o gozo aos servos que foram fieis no pouco recebido. Penso que Deus só deixará entrar no Céu os possuidores dessa verdade, pois de outra forma o paraíso não será totalmente desfrutado, é questão de lógica. Adão e Eva foram expulsos do jardim por agirem como adulto, queriam ser “donos do seu próprio nariz”. Jesus afirmava: “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele. (NHTL - LC 18:17)”. Precisamos ter um coração de criança para apreciarmos cada momento de alegria, cada minuto de amor, pois são essas as razões que tornam essa vida fabulosa. O Céu começa aqui.

No futuro escreverei um livro chamado “A fabulosa vida de Breno”, estarei certo que muitos também não acharão nada de tão fabulosa.

15 de fevereiro de 2008

Anjos e demônios.

Já me perguntaram se em algum momento de minha vida tive algum contato visual com anjo ou demônio. Disse que sim. Alias, os vejo freqüentemente. Vou logo avisando que não vejo seres de rabo e chifres e nem aqueles outros de áurea e asas. Até pedi a Deus, numa ocasião a oportunidade de ver essas criaturas, não os demônios, mas sim, os seres angelicais. Essa prece mudou ao descobrir que uma figura não vive longe da outra. Quem vê anjo, naturalmente verá demônio. Pois quem pede pra ver anjo, pede para ver aquilo que é oculto aos olhos. Quando olho no microscópio, não vejo somente os anticorpos, mas também as bactérias. A mesma coisa deve acontecer com esses seres imateriais.

Morro de medo dos demônios! É cada relato que escuto. Arrepio-me só de lembrar. Mas acredito que esse medo todo é devido a ausência da beleza na maldade. Talvez me pergunte: - Por que então tanta gente é atraída? Simples, o mal é feio, mas sabe se arrumar. É comum ouvirmos ‘aquele’ comentário feminino... “Também, com o dinheiro que ela ganha até eu fico bonita”. E é verdade. Com um pouco de maquiagem aqui e uma plástica ali, muda qualquer um. E é isso que nos fala as Escrituras, os demônios se maquiam de uma maneira que se parecem com um anjo de luz (2CO 11.14).

A verdade: Sem maquiagem os demônios nos assustam, vemos a sua maldade e nos amedrontamos. Pode ter certeza, cedo ou mais tarde o mal coloca os seus “chifrinhos de fora”. E quando acontece deixamos de ser donos do jogo para ser um simples pião. Definitivamente “o feitiço vira contra o feiticeiro”, perdemos o controle da situação e continuamos no jogo por não termos mais saída. Não temos mais saída? Sempre haverá uma saída. Ainda que o corpo esteja acorrentado à alma, esta foi criada para ser livre. Tem muita gente que não sai do “mundo do crime” por achar ser um caminho sem volta. Pobres homens, nunca ouviram os conselhos de Jesus, pois dizia coisas fabulosas sobre a verdade que trazia libertação (Jo 8.32). Talvez lhes faltou também ler os poetas. Por falar nisso, tem um poema de Guerra Junqueiro que traz uma lição preciosa. Fala sobre o pássaro das risadas de cristal e de um velho que prendera seus filhotes na gaiola, a mãe desesperada com o destino dos filhos trazia no seu bico um galho de veneno: “Meus filhos, a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa... Ó filhos, voemos pelo azul!... Comei!”.

Ouvi uma história de uma mulher que tinha uma certa amizade com um demônio, lógico que não sabia, pra ela tratava-se de um anjo. Esse “anjo” prometia muitas coisas pra ela, como o poder, iludida cedeu e deixou-o cuidar de suas coisas. Até que um dia não queria mais o seu serviço, o anjo irado disse que ela tinha um contrato com ele, portanto não poderia ser quebrado. Ela estava firme em sua posição, nesse momento o anjo mostrou sua real identidade e prometeu que arruinaria sua vida. Com essa história lembro-me que todo demônio já foi anjo um dia. Pensando nisso, um dom de valia seria o de discernimento. Nada melhor que saber a procedência desses seres. Imagine quantos problemas poderia ser evitado cortando o mal pela raiz? Sei que não é fácil como parece. É difícil fazer uma desfeita quando o banquete é a riqueza e o poder, só Jesus mesmo conseguiu essa proeza (Mt 4.1-11), por isso precisamos de ajuda. Nessas horas toda ajuda é importante.

Disse que morro de medo dos demônios. Deixe-me mudar um pouquinho a minha colocação. Não tenho medo dos demônios, esses sem um corpo nada podem fazer. Tenho medo dos homens possuídos e dominados por eles, pois são esses que nos tocam e ferem. Esses são os demônios que vejo e temo. No qual faço essa oração: “Livra-me do mal”. E não sou o único que pode ver. Todos podem ver, mas pedimos constantemente pra não vê-los, nem pintados. Esses, só não vê quem não quer. Até um cego das vistas podem ver, pois embora debilitado tem ainda os outros sentidos. Com os meus ouvidos ouço o choro de uma mãe que acabou de perder o filho por uma bala perdida. Com o meu nariz sinto o cheiro do esgoto aberto, lembrando que alguém não honrou sua palavra com os eleitores. O demônio que aponta a arma contra um sujeito é “peixe pequeno”, o problema é maior do que pensamos. Como disse, só não vê quem não quer. Não preciso ter olhos pra ver. Não preciso ter ouvidos pra ouvir. Não preciso ter nariz pra cheirar. Não preciso ter paladar pra saber o gosto, nem tato pra poder tocar. Para ver essas coisas, um coração sensível é mais do que suficiente. Um coração para ver e se importar.

Minha esperança é que mesmo com a existência dos demônios, ainda existem os anjos para contra-balançar. Por mais degradante que seja o quadro, os beija-flores estão pelo mundo tentando apagar o incêndio. Aprendi quando pequenino que eles acampam ao nosso derredor. Essa história de “anjo da guarda” é real. Quantas vezes ele já me protegeu. Meu anjo da guarda tem várias formas. Um dia o vi como um membro da minha família, num outro, como um amigo querido. Meu anjo gosta de cozinhar,também gosta de música, inclusive presenteou-me com seu disco favorito. Ele empina pipa “que é uma beleza”. Chama-me às vezes para admirarmos junto à natureza. Bem, pararei de falar de meu anjo para não ficares com inveja.

Vivemos dentro deste combate. A luta constante entre o bem e o mal. Não creio na existência de um dualismo entre essas duas forças. O homem possui essência divina, mas não é Deus , embora sempre tenha sido o seu desejo. Tudo que o homem cria é infinitamente menor que Deus. O mal não é grande como pensamos, o que acontece é que perdemos o controle sobre nossa invenção.

Anjo significa “mensageiro”. Quando as Escrituras relatam as aparições dos anjos, na maioria das vezes vem seguido com “Senhor” ou “Deus”: O anjo do Senhor, ou o anjo de Deus. Podemos dizer que os anjos são todos aqueles que fazem a vontade de Deus. No momento que “compro a briga” e decido fazer a vontade de Deus, ganho asas e posso voar. É Jesus que fala isso: “Vocês são seres luminosos, não se pode esconder esse brilho; mas ao contrário, deve-se deixar a vista de todos, para que possam ver que anjo da guarda existe e assim glorificarem a Deus que enviou (MT 5.14-16)”. Pegando um texto fora do contexto mais dentro do meu contexto, lá em Números 20.16 diz “E clamamos ao SENHOR, e ele ouviu a nossa voz, e mandou um anjo, e nos tirou do Egito...” O mundo clama pelos anjos de Deus e depende de nós levarmos a mensagem das boas novas.


PS.: Uma certa pessoa contou-me de um rapaz que dizia ver demônios e anjos diariamente, agora entendo o que ela queria dizer, e eu pensava que esse rapaz sofria de esquizofrenia.

31 de janeiro de 2008

Um belo poema de Alberto Caeiro.


V - Há Metafísica Bastante em Não Pensar em Nada

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos.


*Alberto Caeiro é heterônimo de Fernando Pessoa.

25 de janeiro de 2008

"Ao comer uma manga" ou se preferir "O fruto proibido".

Morei num lugar onde tinha muitas árvores, dessas a minha preferida era Mangueira, não pela árvore em si e sim pelos frutos. Como gosto de manga. Nem tenho dúvida que seja a melhor fruta para simbolizar o fruto proibido, quem é que nunca foi tentado em atirar uma pedra pra derrubá-la da árvore seja o primeiro que atire em mim. Ao ler no relato bíblico que o fruto é agradável aos olhos e desejável, acabo saindo do campo da especulação e acreditando que o fruto é de uma Mangueira – manga rosa “ainda por cima”. Não há quem resista essa saborosa fruta, é assim hoje e desde tempos mais remoto.

“De toda árvore do jardim comerás livremente... (Gn 2:16)” Seguia a risca essa ordenança mesmo contrariando a lei donde morava. O Criador disse pra comer e quem sou eu pra contrariar? Como vê, texto fora do contexto é um ótimo pretexto para se comer uma fruta, e como eu comia.

A lei permitia comer somente das frutas caídas, na atitude de um anjo caído atirava manga verde nas do pé, nem preciso vos lembrar daquele ditado “manga verde em manga madura tanto bate até que cai” no chão e me delicio. Como é bom pecar: “pecar” – “pegar” – é só mudar uma letra... Quando cansava de pegar as mangas do chão, para variar um pouquinho pegava as da cozinha do seminário, que é totalmente proibido.

Sei que são nas pequenas atitudes que revelam o que de verdade há em nosso coração. No meu, além do forte desejo de comer do fruto, também havia em certo sentido rebeldia. Não aceitava certas regras e acreditava – e ainda acredito – que Jesus concordaria em parte comigo, foi Ele que criticou muitas vezes as atitudes dos fariseus em relação à lei, ao invés de conduzir o homem a Deus o afastava. Os fariseus colocavam a lei diante de um altar e fazia dela ídolo, ferindo um dos mandamentos de Deus.

A lei que prevalece pra Deus é a do amor. Sendo assim a vida era e é muito mais importante. É isso que os fariseus não entendiam e nem os reitores de lá. O objetivo da lei não é o de atrapalhar a vida das pessoas, mas de ajudar. A lei ajuda-nos a perceber que precisamos de ajuda (revela nossa maldade). Somos nós que “vira e mexe” gostamos de dificultar ainda mais a vida dos outros e transformamos o paraíso num lugar insuportável de se viver, nesse sentido é que acredito que a lei acaba operando em nós a ira – aproveitando as palavras do Apostolo Paulo. A vida em si já é difícil, porque dificultar ainda mais? Tem hora que creio que os seres humanos têm esse dom. Nem sei se posso chamar isso de dom, mas tudo bem. Claro que esse dom tem propósitos, e ao meu ver acontece pela razão de todos os seres humanos estarem à procura do paraíso e estão dispostos a tudo para alcançá-lo. Se para viverem em seus paraísos particulares alguém precisa pagar, que outro pague, não é assim a lei que opera na nossa sociedade? Tem também aquela questão de termos dificuldade de aceitar a graça divina, entretanto isso abordaremos mais para frente.

Gosto de Jesus Cristo. Sua sabedoria me fascina e seu caráter... “nem se fala!”. Conhece o coração humano, sabe o que de verdade acontece lá dentro e nesse conhecimento deu até uma bronca nos fariseus, os chamando de hipócritas, pois por mais que fossem fieis nos dízimos das hortaliças não obedeciam aos mandamentos de suma importância, “que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos... (NTLH Mt 23:23)”. Não estou querendo justificar meus atos, sou o “pegador” de manga confesso. O que acho inaceitável é o que somos capazes de fazer com a lei, o que era para ser algo bom é distorcido e “mudamos a verdade de Deus em mentira (Rm 1:25)”. Muitas vezes carregados de boas intenções, mas como ouvimos por ai: “De boas intenções o inferno está cheio”.

Tirando outro texto fora do contexto mais na crença de não estar fazendo nada de errado, tem aquele texto de Paulo de que “nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”, onde se podem tirar lições preciosas sobre a graça. Pois é, graça é isso. Não é pelo que fazemos ou deixamos de fazer, mas o que Deus vive fazendo por nós. Por mais que não mereçamos as mangas da vida, pois muitas vezes não regamos, não plantamos e nem adubamos, coube a Deus nos agraciar. Não se pode esquecer que é Ele que dá o crescimento.

Muitas vezes é preferível deixar as frutas estragarem, ou a satisfação de pegar um seminarista ou “seja lá quem for” com a ‘mão-na-manga’ e trazer uma lição de moral do que viver pela graça. Tenho aprendido a ter paciência com essas pessoas que se alimentam ainda de leite, um dia comeremos juntos não somente do fruto da mangueira, mas também da árvore da vida. Talvez hoje o medo desses meninos e meninas de comer manga é aquela lenda de misturar leite com manga (tem gente que diz tratar-se de uma mistura perigosa), não cabe a eu julgar.

Tudo começou ao comer uma manga. As frutas em geral têm esse poder de nos dar um tipo de entendimento. Descobrir coisa que até então não sabíamos. Proporcionar minutos festivos. Trazer momentos de reflexão e de aprendizado. É claro, dependerá de como vemos o fruto, pois se encararmos como um fruto comum, então, será comum. Por isso minha oração ao nosso mestre é que nos ensine o fabuloso milagre de transformar água em vinho. Precisamos diariamente desse milagre para tornar as ocasiões de nossa vida realmente significantes.

Lembre-se: O pecado dos nossos antepassados não estava no fruto e sim no coração.


PS.: Seria injusto terminar e não vos falar que a lei hoje tem se tornado flexível enquanto o comer das mangas, mas no fundo continua sendo má. O problema não está na manga, não está nas leis e nem na instituição, está em nós.

Minha teologia...

Minha teologia nada tem a ver com teologia.
É vício.
Há muito que deveria ter abandonado este nome.
E dizer só poesia, ficção.
Descansem os que têm certezas.
Não entro no seu mundo e nem desejo entrar.
Jardins de concreto me causam medo.
Prefiro a sombra dos bosques
e o fundo dos mares,
lugares onde se sonha....
Ali moram os mistérios
e o meu corpo fica fascinado.

Rubem Alves em "Sobre deuses e caquis".

15 de janeiro de 2008

Volta à cidade.

Eu voltei, ainda não sei se é pra ficar. Voltei ao Rio de Janeiro e o Cristo Redentor recebeu-me do mesmo modo de sempre – de braços abertos. Onde pude até imaginar uma linda ilustração sobre a graça, nesses últimos quatros anos tenho verificado que por mais tempo que fico longe, o Cristo sempre está de braços aberto lá no Corcovado a minha espera. Já dizia o Apostolo Paulo “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (EF 2:8)”, realmente a graça é dom de Deus. A Graça tem essa graça de tornar Deus em estatua (não me entenda literalmente), assim seus braços estarão sempre abertos para nos receber. Ele é como o pai da parábola do filho pródigo, sempre lá a espera, não porque mereçamos, mas por ser esse o seu dom. E finalmente, quando a Ele nos achegamos, a estatua de pedra cordialmente transformasse numa rocha para fazermos moradas.

É gente, voltei ao Rio, pois meu curso de teologia findou-se. E uma das perguntas que mais ouço desde que cheguei é “Já está sentindo saudades?”, digo que a ‘ficha’ não caiu, mas que já tenho sentido saudades de alguns amigos. Pedem também para fazer uma retrospectiva desses anos e respondo somente com duas palavras: Tenho aprendido. Claro que não ficam satisfeito somente com isso, assim tento explicar, falo da teologia do poeta de que “somos eternos aprendizes”, e de que Deus nos criou como seres em desenvolvimento, por isso sempre teremos algo para aprender seja nessa vida ou na outra, seja no seminário ou fora. Alias, o seminário só difere porque estudamos a Bíblia, mas o que aprendi lá poderia aprender fora. Não sai mais inteligente, apenas deixei de ser menos ignorante. E vocês não sabem o como isso é terrível! Descobrir que não sou tão perfeito como pensava, que é impossível prender Deus em redes teológicas, pois Deus é vento – Essa aprendi com Rubem Alves. Embora seja terrível devo admitir que esse conhecimento também é maravilhoso, pois significa que a vida sempre nos surpreenderá, repito, sempre teremos algo para aprender. Querer saber de tudo é invocar o tédio para si, eu, por exemplo, se chegar a esse nível peço então a morte.

Estou lembrando agora de uma conversa com uma amiga, ela relutando comigo de que não tem como sentir saudades somente dos amigos e nem um pouco do seminário, falei que conseguia pela razão de não ter o apego à instituição e sim pela vida. Mas ela teimava porque tanto uma parte da minha vida como a dela foi dentro dessa estrutura, vivi com meus amigos tanto dias de alegria como de tristeza lá dentro, na verdade os conheci lá, ganhei até um irmãozinho que mesmo sendo maior que eu, não importava de ser chamado no diminutivo. Pensando bem, o sistema foi bom comigo, ele me aproximou das pessoas, mesmo sem saber, mas aproximou. Infelizmente, fui machucado nesse lugar. Como no filme ‘Guerra nas Estrelas’, conheci um pouco “do lado negro da força” e que deixou marcas, talvez porque aconteceu tudo recentemente ainda guarde ressentimento. Mas isso, creio que com tempo vai indo... e indo... quando vê, já foi. O tempo é sempre um bom remédio nessas horas. Quem sabe um dia também tenha saudades de Nárnia (apelido dado ao seminário por alguns seminaristas).

Hoje, a única estrutura que sentirei saudades de lá é a da natureza, estrutura criada pelo divino. Sentirei saudade de toda aquela vida, onde podia ver homem e a natureza tentando viver em equilíbrio. Óbvio que estou romantizando, até ali percebo essa falta de harmonia, e o engraçado que fomos chamados por Deus para cuidar do jardim. Eu mesmo só despertei de uns anos para cá essa nossa vocação. Teve até um dia que meus amigos perguntaram se estava maluco, pois me viram parado olhando a copa de uma árvore contra o céu azul. Sentirei saudade daquele contato com a natureza. Como era bom acordar junto com o sol e sentir logo cedo o cheiro do orvalho, as noites deitado na quadra olhando para a lua e as estrelas, as aventuras no meio da mata, o canto da Seriema, as mangas de tão madura que se jogavam em meu colo proporcionando momentos de puro prazer.

Vida urbana é triste. Deve ser porque toda a vida está enterrada debaixo do cimento. A saudade do Jardim do Éden é a dor mais secreta do ser humano. Desde o momento em que aconteceu o rompimento do homem com Deus, encontrar o paraíso tem sido nossa maior obsessão. Albert Camus chama isso de nostalgia do paraíso perdido. No fundo, todos nós buscamos esse paraíso, só que nem sempre procuramos no lugar certo. Mesmo nós como cristão é normal sentir essa saudade, a diferença é que temos esperança, estamos no caminho certo. Enquanto esse dia não chega praticarei um novo hobby, cultivar árvore. Ganhei um muda de ipê amarelo e percebi que poderá ser um grande exercício de esperança. Talvez não veja suas flores, mas pensar que num futuro outras pessoas serão agraciadas por sua beleza bastará para me fazer feliz. Aí levanto uma prece ao Pai, peço o dom da visão, pois quero ver pequeno deslumbres desse paraíso, e deparo com o sorriso de uma criança, a prece muda de tom, torna-se agora uma canção “Ora vem, Senhor Jesus (AP 22:20)”.