1 de abril de 2008

Pequeno discurso sobre a verdade.

Uma coisa é certa, todos nós queremos possuir a verdade. E a melhor explicação desse fato está nas palavras de Jesus, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32)”. A humanidade durante todo a sua história desejou encontrar a chave-resposta de sua existência. Ansiou exaustivamente, e ainda anseia, conhecer a verdade para libertar sua alma cativa. Essa tem sido a maior busca da humanidade, que é conhecer o verdadeiro. E ela sabe que só há a liberdade onde reina a verdade. “Sereis livres quando conheceres a verdade”, parafraseando as palavras de Jesus.

Nessa busca pela verdade surgi em cena os filósofos e teólogos, que nada mais são que os ‘Indiana Jones’. Abrindo parênteses pra se fazer uma graça. Indiana Jones em... “Caçadores da verdade perdida” - Em breve nos melhores cinemas perto de você. Fecha parênteses. O problema das filosofias em geral é que cada uma se propõe como a possuidora da verdade, assim sendo se a verdade mora comigo não poderá estar contigo. Ao meu ver essa brincadeira toda só acontece por causa da nossa ambição de nos tornarmos heróis, ganharmos a fama de libertador. Com isso essa tão sonhada ‘busca pela verdade’ acaba se transformando numa ‘luta pela verdade’ e aí vale de tudo, inclusive tirar a liberdade. Agora você sabe porque é tão difícil encontrar a verdade hoje em dia. É muita concorrência!

Surgi uma pergunta: Onde está a verdade nisso tudo? A verdade está que, para esses homens possuírem a verdade é preciso que a engaiole. E para engaiolar a verdade é necessário engaiolar a liberdade e o pensamento. Um pouco controverso? É eu sei. Mas é isso que realmente acontece. Lutamos para conseguir a liberdade e o que conseguimos é nos embolar ainda mais nas amarras, igual aquele animalzinho que desesperadamente tenta soltar-se do novelo de lã.

”Deus dá a nostalgia pelo vôo. As religiões constroem gaiolas. Quando o vôo se transforma em gaiolas, isso é idolatria.” Rubem Alves.

A verdade está nisso: No vôo.
O vôo nada mais é que o resultado da liberdade.
Pássaro engaiolado não pode voar.
Podemos fazer uma avaliação se o que seguimos repousa a verdade do seguinte modo. Repare ao bater de asas se conseguirá sair do chão.

Concordo com Nietzsche que, a verdade que conhecemos não poderia ser chamada de Verdade (com letra maiúscula mesmo) por tratar sempre de uma compreensão parcial (não completa), uma metáfora (semelhante ou reflexo da coisa) ou metonímia (outra palavra para a coisa), ou seja, o conhecimento que o homem tem da verdade nunca será a Verdade propriamente dita, mas sim um reflexo daquilo que realmente seja a verdade.Teve um tempo que observava a filosofia como parte da teologia, num outro a teologia que fazia parte da filosofia. Hoje, a melhor maneira de observa essas duas seria como irmãs. Diria irmãs siamesas, uma dependente da outra. Quem sabe também almas gêmeas, uma completando a outra. Voltando a ilustração do vôo, pois acho que a chave da verdade ali se encontra. A primeira pergunta que deveríamos fazer quando pensamos em nossas asas é, “quem as colocou?” ou “quem disse que as asas servem para voar?”. Es a questão: Não encontraremos o sentido da vida na própria vida, pois a vida é uma verdade mais não a Verdade. Para encontrarmos o sentido precisamos buscar quem a criou. Deus é o inicio de tudo, assim afirma a teologia e é o que acredito.

O conhecimento que o homem tem de Deus será sempre uma compreensão humana (o que a teologia chama de antropomorfismo), logo imperfeito. A religião surge dentro desta imperfeição. Cada uma tentando engarrafar Deus e vender com os seus rótulos: “A única”, “A que sobe redondo (- Pois descer é coisa do capeta!)” e etc. Mas o que elas não sabem é que Deus não se deixa prender em garrafas de vidro. Deus é como um cavalo selvagem. Daqueles que não pode ser domesticado. Esse é o problema da religião, na tentativa de prender Deus acabam capturando deus e para isso tem um mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim.” (ÊX 20:3). Isso porque a religião fala muito mais da forma humana que da forma de Deus. Conseqüentemente, os dogmas não são verdades de Deus, embora lhe atribuímos tal valor. Por mais que nós conheçamos a Jesus, jamais poderemos exprimir absolutamente essa verdade nas coisas que criamos (dogmas, estruturas, instituições). O conselho que dou para os teólogos não é meu e sim de Rubem Alves: “Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar... Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar o nosso corpo. Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne”.

Em João 18.38 Pilatos pergunta pra Jesus “O que é a verdade?”, mas ele não responde. Acredito porque Jesus sabia que dar forma verbal à verdade, criando uma filosofia ou ideologia, seria o mesmo que matar a própria verdade. Diria tudo, menos “a verdade”. Agora, no mesmo livro em alguns capitulo atrás (14), Ele se apresenta como a Verdade, a Verdade de Deus, a Verdade Encarnada. Posso concluir que para Jesus, a verdade não se conhece (cognitivamente), nem se representa ou se expressa (dogmaticamente), mas se experimenta, se vive e pronto.

Ecoa ainda em minha cabeça as palavras de Jesus: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32)”. Corremos para religião para alcançar a liberdade, mas o que conseguimos são algemas, isso por que a religião e os seus dogmas se apresentam como sendo a verdade. E a igreja erra quando ao invés de conduzir o homem no caminho da verdade, o afasta.

Nenhum comentário: