25 de janeiro de 2008

"Ao comer uma manga" ou se preferir "O fruto proibido".

Morei num lugar onde tinha muitas árvores, dessas a minha preferida era Mangueira, não pela árvore em si e sim pelos frutos. Como gosto de manga. Nem tenho dúvida que seja a melhor fruta para simbolizar o fruto proibido, quem é que nunca foi tentado em atirar uma pedra pra derrubá-la da árvore seja o primeiro que atire em mim. Ao ler no relato bíblico que o fruto é agradável aos olhos e desejável, acabo saindo do campo da especulação e acreditando que o fruto é de uma Mangueira – manga rosa “ainda por cima”. Não há quem resista essa saborosa fruta, é assim hoje e desde tempos mais remoto.

“De toda árvore do jardim comerás livremente... (Gn 2:16)” Seguia a risca essa ordenança mesmo contrariando a lei donde morava. O Criador disse pra comer e quem sou eu pra contrariar? Como vê, texto fora do contexto é um ótimo pretexto para se comer uma fruta, e como eu comia.

A lei permitia comer somente das frutas caídas, na atitude de um anjo caído atirava manga verde nas do pé, nem preciso vos lembrar daquele ditado “manga verde em manga madura tanto bate até que cai” no chão e me delicio. Como é bom pecar: “pecar” – “pegar” – é só mudar uma letra... Quando cansava de pegar as mangas do chão, para variar um pouquinho pegava as da cozinha do seminário, que é totalmente proibido.

Sei que são nas pequenas atitudes que revelam o que de verdade há em nosso coração. No meu, além do forte desejo de comer do fruto, também havia em certo sentido rebeldia. Não aceitava certas regras e acreditava – e ainda acredito – que Jesus concordaria em parte comigo, foi Ele que criticou muitas vezes as atitudes dos fariseus em relação à lei, ao invés de conduzir o homem a Deus o afastava. Os fariseus colocavam a lei diante de um altar e fazia dela ídolo, ferindo um dos mandamentos de Deus.

A lei que prevalece pra Deus é a do amor. Sendo assim a vida era e é muito mais importante. É isso que os fariseus não entendiam e nem os reitores de lá. O objetivo da lei não é o de atrapalhar a vida das pessoas, mas de ajudar. A lei ajuda-nos a perceber que precisamos de ajuda (revela nossa maldade). Somos nós que “vira e mexe” gostamos de dificultar ainda mais a vida dos outros e transformamos o paraíso num lugar insuportável de se viver, nesse sentido é que acredito que a lei acaba operando em nós a ira – aproveitando as palavras do Apostolo Paulo. A vida em si já é difícil, porque dificultar ainda mais? Tem hora que creio que os seres humanos têm esse dom. Nem sei se posso chamar isso de dom, mas tudo bem. Claro que esse dom tem propósitos, e ao meu ver acontece pela razão de todos os seres humanos estarem à procura do paraíso e estão dispostos a tudo para alcançá-lo. Se para viverem em seus paraísos particulares alguém precisa pagar, que outro pague, não é assim a lei que opera na nossa sociedade? Tem também aquela questão de termos dificuldade de aceitar a graça divina, entretanto isso abordaremos mais para frente.

Gosto de Jesus Cristo. Sua sabedoria me fascina e seu caráter... “nem se fala!”. Conhece o coração humano, sabe o que de verdade acontece lá dentro e nesse conhecimento deu até uma bronca nos fariseus, os chamando de hipócritas, pois por mais que fossem fieis nos dízimos das hortaliças não obedeciam aos mandamentos de suma importância, “que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos... (NTLH Mt 23:23)”. Não estou querendo justificar meus atos, sou o “pegador” de manga confesso. O que acho inaceitável é o que somos capazes de fazer com a lei, o que era para ser algo bom é distorcido e “mudamos a verdade de Deus em mentira (Rm 1:25)”. Muitas vezes carregados de boas intenções, mas como ouvimos por ai: “De boas intenções o inferno está cheio”.

Tirando outro texto fora do contexto mais na crença de não estar fazendo nada de errado, tem aquele texto de Paulo de que “nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento”, onde se podem tirar lições preciosas sobre a graça. Pois é, graça é isso. Não é pelo que fazemos ou deixamos de fazer, mas o que Deus vive fazendo por nós. Por mais que não mereçamos as mangas da vida, pois muitas vezes não regamos, não plantamos e nem adubamos, coube a Deus nos agraciar. Não se pode esquecer que é Ele que dá o crescimento.

Muitas vezes é preferível deixar as frutas estragarem, ou a satisfação de pegar um seminarista ou “seja lá quem for” com a ‘mão-na-manga’ e trazer uma lição de moral do que viver pela graça. Tenho aprendido a ter paciência com essas pessoas que se alimentam ainda de leite, um dia comeremos juntos não somente do fruto da mangueira, mas também da árvore da vida. Talvez hoje o medo desses meninos e meninas de comer manga é aquela lenda de misturar leite com manga (tem gente que diz tratar-se de uma mistura perigosa), não cabe a eu julgar.

Tudo começou ao comer uma manga. As frutas em geral têm esse poder de nos dar um tipo de entendimento. Descobrir coisa que até então não sabíamos. Proporcionar minutos festivos. Trazer momentos de reflexão e de aprendizado. É claro, dependerá de como vemos o fruto, pois se encararmos como um fruto comum, então, será comum. Por isso minha oração ao nosso mestre é que nos ensine o fabuloso milagre de transformar água em vinho. Precisamos diariamente desse milagre para tornar as ocasiões de nossa vida realmente significantes.

Lembre-se: O pecado dos nossos antepassados não estava no fruto e sim no coração.


PS.: Seria injusto terminar e não vos falar que a lei hoje tem se tornado flexível enquanto o comer das mangas, mas no fundo continua sendo má. O problema não está na manga, não está nas leis e nem na instituição, está em nós.

Um comentário:

Fran Oliveira disse...

Muito muito muito bom!!!!!
Confesso q tbm prefiro manga a leite!
Um abração amigo!