15 de janeiro de 2008

Volta à cidade.

Eu voltei, ainda não sei se é pra ficar. Voltei ao Rio de Janeiro e o Cristo Redentor recebeu-me do mesmo modo de sempre – de braços abertos. Onde pude até imaginar uma linda ilustração sobre a graça, nesses últimos quatros anos tenho verificado que por mais tempo que fico longe, o Cristo sempre está de braços aberto lá no Corcovado a minha espera. Já dizia o Apostolo Paulo “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (EF 2:8)”, realmente a graça é dom de Deus. A Graça tem essa graça de tornar Deus em estatua (não me entenda literalmente), assim seus braços estarão sempre abertos para nos receber. Ele é como o pai da parábola do filho pródigo, sempre lá a espera, não porque mereçamos, mas por ser esse o seu dom. E finalmente, quando a Ele nos achegamos, a estatua de pedra cordialmente transformasse numa rocha para fazermos moradas.

É gente, voltei ao Rio, pois meu curso de teologia findou-se. E uma das perguntas que mais ouço desde que cheguei é “Já está sentindo saudades?”, digo que a ‘ficha’ não caiu, mas que já tenho sentido saudades de alguns amigos. Pedem também para fazer uma retrospectiva desses anos e respondo somente com duas palavras: Tenho aprendido. Claro que não ficam satisfeito somente com isso, assim tento explicar, falo da teologia do poeta de que “somos eternos aprendizes”, e de que Deus nos criou como seres em desenvolvimento, por isso sempre teremos algo para aprender seja nessa vida ou na outra, seja no seminário ou fora. Alias, o seminário só difere porque estudamos a Bíblia, mas o que aprendi lá poderia aprender fora. Não sai mais inteligente, apenas deixei de ser menos ignorante. E vocês não sabem o como isso é terrível! Descobrir que não sou tão perfeito como pensava, que é impossível prender Deus em redes teológicas, pois Deus é vento – Essa aprendi com Rubem Alves. Embora seja terrível devo admitir que esse conhecimento também é maravilhoso, pois significa que a vida sempre nos surpreenderá, repito, sempre teremos algo para aprender. Querer saber de tudo é invocar o tédio para si, eu, por exemplo, se chegar a esse nível peço então a morte.

Estou lembrando agora de uma conversa com uma amiga, ela relutando comigo de que não tem como sentir saudades somente dos amigos e nem um pouco do seminário, falei que conseguia pela razão de não ter o apego à instituição e sim pela vida. Mas ela teimava porque tanto uma parte da minha vida como a dela foi dentro dessa estrutura, vivi com meus amigos tanto dias de alegria como de tristeza lá dentro, na verdade os conheci lá, ganhei até um irmãozinho que mesmo sendo maior que eu, não importava de ser chamado no diminutivo. Pensando bem, o sistema foi bom comigo, ele me aproximou das pessoas, mesmo sem saber, mas aproximou. Infelizmente, fui machucado nesse lugar. Como no filme ‘Guerra nas Estrelas’, conheci um pouco “do lado negro da força” e que deixou marcas, talvez porque aconteceu tudo recentemente ainda guarde ressentimento. Mas isso, creio que com tempo vai indo... e indo... quando vê, já foi. O tempo é sempre um bom remédio nessas horas. Quem sabe um dia também tenha saudades de Nárnia (apelido dado ao seminário por alguns seminaristas).

Hoje, a única estrutura que sentirei saudades de lá é a da natureza, estrutura criada pelo divino. Sentirei saudade de toda aquela vida, onde podia ver homem e a natureza tentando viver em equilíbrio. Óbvio que estou romantizando, até ali percebo essa falta de harmonia, e o engraçado que fomos chamados por Deus para cuidar do jardim. Eu mesmo só despertei de uns anos para cá essa nossa vocação. Teve até um dia que meus amigos perguntaram se estava maluco, pois me viram parado olhando a copa de uma árvore contra o céu azul. Sentirei saudade daquele contato com a natureza. Como era bom acordar junto com o sol e sentir logo cedo o cheiro do orvalho, as noites deitado na quadra olhando para a lua e as estrelas, as aventuras no meio da mata, o canto da Seriema, as mangas de tão madura que se jogavam em meu colo proporcionando momentos de puro prazer.

Vida urbana é triste. Deve ser porque toda a vida está enterrada debaixo do cimento. A saudade do Jardim do Éden é a dor mais secreta do ser humano. Desde o momento em que aconteceu o rompimento do homem com Deus, encontrar o paraíso tem sido nossa maior obsessão. Albert Camus chama isso de nostalgia do paraíso perdido. No fundo, todos nós buscamos esse paraíso, só que nem sempre procuramos no lugar certo. Mesmo nós como cristão é normal sentir essa saudade, a diferença é que temos esperança, estamos no caminho certo. Enquanto esse dia não chega praticarei um novo hobby, cultivar árvore. Ganhei um muda de ipê amarelo e percebi que poderá ser um grande exercício de esperança. Talvez não veja suas flores, mas pensar que num futuro outras pessoas serão agraciadas por sua beleza bastará para me fazer feliz. Aí levanto uma prece ao Pai, peço o dom da visão, pois quero ver pequeno deslumbres desse paraíso, e deparo com o sorriso de uma criança, a prece muda de tom, torna-se agora uma canção “Ora vem, Senhor Jesus (AP 22:20)”.

2 comentários:

Anônimo disse...

uaaaaaaaau, "valeu a pena perder um tempinho" p vir aqui...

Anônimo disse...

hein fui eu que escrevi isso ai em cima ta? hehehe.Bjks