27 de novembro de 2007

“Crescemos praticamente juntos”

Enganaram-me. Sim, pregaram uma pegadinha e eu, caí. Não esperava que acontecesse logo comigo, lógico se esperasse não cairia. Quer dizer, não tenho tanta certeza, do jeito que sou ‘bobinho’...
Caí numa brincadeira de uma pessoa que fez uso indevido do MSN de uma amiga. Claro que soube disso depois. Na hora o suor corria frio no meu rosto, a palidez tomava minha pele. Perguntava: Por que esse mal entendido está ocorrendo justo comigo? Eu, um rapaz tão gente fina, legal e crente.
Sim! Ainda por cima crente.
E justificava: Amiga por que lhe ofenderia?
Mas essas palavras esvaziavam-se na tela do computador por outras pontiagudas... E tornava o clima cada vez mais tenso. Tentava explicar. Ela não queria ouvir (ler). Aí apelei: Poxa! Como pode pensar isso de mim? Crescemos praticamente juntos.

Crescemos praticamente juntos e parecia que não me conhecia.
Depois aconteceu o alivio. Como disse, caí numa pegadinha. Esse mal entendido não precisa mais ser estendido, pois a situação foi esclarecida. Ninguém ferido. Só levou-me a refletir minha incapacidade de cultivar as flores que tenho recebido.

Crescemos praticamente juntos e mesmo assim ‘parecia’ que não me conhecia.
Doeu naquela hora. Continua doendo. Mesmo que tenha sido uma brincadeira, assemelhou-se bastante com a realidade. Não que eu xingue. Sim pelo cuidado. Não tenho tido cuidado com as amizades que cultivo. Já dizia aquela raposa do pequeno príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Se tivesse regado bem não precisaria entrar naquele impasse. Seria ela que diria: – Crescemos praticamente juntos sei que não faria isso.

Qualquer um que queira aventurar na arte de criar jardins, precisa saber que para a planta crescer tem de ter certos cuidados. Vai desde o preparo da terra a podar quando preciso. Na história da criação é isso que vemos, Deus nos colocou no meio de um jardim e incumbiu a missão de cuidarmos. Cuidarmos da natureza e do nosso próximo. Uma vez que fazemos parte do mesmo universo (o da criação) precisamos trabalhar para que as flores não murchem, os ipês continuem alegrando no inverno. Cada qual fazendo a sua parte nesse grande jardim. Cada um com a sua peculiaridade exercendo o seu papel. Esse é o nosso chamado: Cuidar uns dos outros. Ás árvores mesmo com a nossa ingratidão continua produzir seus frutos. Não é de espantar que o primeiro ser humano tenho sido feito da terra e o segundo da costela do outro, creio que o Criador fez isso de propósito para revelar nossa total interdependência.

Desde o momento que o homem deixou de ter cuidado, o mundo se tornou um lugar descuidado, maltratado, largado, complicado de se viver.
Devíamos fazer uso ‘daquelas placas’ enquanto a consciência está sendo conscientizada.
– Ei! Você não viu a placa! – O rapaz estica o dedo indicador em direção aos dizeres “Não pise, não maltrate e nem fira as plantas. Ame-as.”.
Nós fomos criados para vivermos no jardim. Se hoje o que enxergamos é a degradação em vez de jardim a culpa é nossa. Abandonamos a arte de cuidar para dedicarmos ao desmatamento. Do jardim ao buquê. Tudo não passa de interesse. A vida é resumida em buquê, um nome bonito para o capitalismo.
Mas ainda mantenho esperança. O jardim ainda não morreu. O propósito do Criador continua. Novas flores estão florescendo. Posso ver o toque da graça nos pingos de orvalho logo cedo.

“A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou na esperança, porque a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Romanos 8.19-21)"

Essa é a minha esperança: O jardim voltará a encantar.
Devemos retomar o foco. Resgatar os valores outrora perdido.
Aprender... Sempre teremos algo a aprender. Nessa vida somos eternos aprendizes.
E a raposa ainda tem algo a nos ensinar:
“Disse o príncipe: O que quer dizer “cativar”?
(...) É uma coisa muito esquecida – disse a raposa. – Significa “criar laços”...
– Criar laços? – Exatamente. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo. (...)
– Por favor, cativa-me! – disse ela. – Bem quisera – disse o príncipe – mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
– A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa.”

E crescemos praticamente juntos...
Demorei a aprender. Ainda bem que nunca é tarde pra recomeçar. E a pergunta continua... perpetuada em meu coração:
Como estou cultivando as flores que tenho recebido?
A maneira em que cuido determinará o perfume que colherei amanhã.
Lembre-se sempre da sábia frase da raposa: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Seja a Deus. Seja o próximo. Seja a natureza. Seja a vida.

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